Encontro de Obama e Castro terminou com optimismo e um longo caminho a percorrer

Existe ainda um longo caminho para a reconciliação entre Cuba e Estados Unidos. Mas esta pareceu mais próxima no final do encontro entre o Presidente dos EUA e o Presidente de Cuba, algo que não acontecia há mais de 50 anos.

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Tanto Raúl Castro como Barack Obama deixaram claro que existem várias divergências entre os EUA e Cuba, mas que, apesar disso, há optimismo para a reaproximação Mandel Ngan / AFP

A reunião durou cerca de uma hora e, no final, Obama e Castro disseram que apesar das divergências entre os dois países, houve entendimento suficiente para se avançar com a aproximação diplomática. “Os nossos Governos continuarão a ter divergências”, afirmou o Presidente dos Estados Unidos numa conferência de imprensa. “Mas, ao mesmo tempo, concordámos que podemos continuar a dar mais passos em frente que façam progredir os nossos interesses mútuos”, acrescentou.

O encontro foi simbólico e o optimismo que dele resultou também: não foram anunciadas quaisquer decisões concretas e, no final da Cimeira das Américas, Cuba ainda se mantinha na lista norte-americana de países patrocinadores de terrorismo, algo que Obama prometeu analisar ao longo dos próximos dias e que Cuba exige que se altere para se avançar com a instalação de embaixadas em ambos os países. Em todo o caso este foi ponto que ficou definitivamente acordado durante o encontro, de acordo com fontes não identificadas da Administração norte-americana ao New York Times.

Um optimismo simbólico e cauteloso, nas palavras de Obama e no tom das declarações de Raúl Castro, mas que parece ter criado condições para que o processo de aproximação avance. O Presidente dos Estados Unidos disse, depois da conversa “cândida e frutífera” com o líder cubano – o primeiro face-a-face oficial em mais de 50 anos entre os chefes de Estado dos dois países –, que crê que estão reunidas as condições para a reconstrução das relações diplomáticas entre Cuba e EUA. 

“Estou cautelosamente optimista”, afirmou Obama, depois do encontro. O Presidente dos EUA disse também que tem esperança que o projecto de aproximação entre os dois países “reafirmado aqui na Cimeira das Américas, leve a um futuro diferente para a população cubana e a uma relação diferente com os Estados Unidos”.

Um sinal que foi repetido pelo Presidente de Cuba, Raúl Castro. Na primeira intervenção de Cuba na Cimeira das Américas, o irmão e sucessor de Fidel Castro já havia afirmado que Obama era “um homem honesto” e, num tom surpreendentemente reconciliador, que este também não tinha “responsabilidade alguma pelas políticas da Guerra Fria ou pelo bloqueio [comercial]”. Sobre o encontro a dois, Raúl Castro apontou para a mesma abertura e para o mesmo optimismo cauteloso de que antes falara Obama.

“Estamos dispostos a falar de tudo, mas precisamos de ser pacientes, muito pacientes”, afirmou o líder cubano, que concluiu com um tom de esperança para as relações entre os dois países: “É possível que hoje discordemos em algo que amanhã poderemos estar de acordo”.

Obstáculos, sim, mas aproximação
“Muita gente pensa que estão para chegar alterações dramáticas. Eu não creio que elas aconteçam num futuro imediato”, escreve no diário britânico The Guardian o curador e poeta cubano Tomas Aquilino Sanchez.

Com efeito, mesmo que se avance com a construção de embaixadas em ambos os países, existe ainda um longo caminho para que as relações possam colmatar a grande distância criada entre os dois países ao longo da Guerra Fria. Mesmo que Obama afirme, como o fez sábado na cimeira, que “[a Guerra Fria] terminou há muito tempo”.

“Não estou interessado em ter batalhas que, francamente, começaram antes de eu ter nascido”, disse Barack Obama em resposta ao Presidente do Equador, Rafael Correa.

Rafael Correa falava especificamente do embargo comercial dos EUA a Cuba, um dos pontos centrais nas relações diplomáticas entre ambos. De acordo com o The New York Times, Raúl Castro frisou este ponto ao longo da reunião. Ele e Obama estão de acordo em relação ao levantamento do embargo a Cuba, mas a decisão cabe ao Congresso norte-americano, no qual a maioria é composta por membros do Partido Republicano que se opõem à aproximação dos laços diplomáticos.

E podem ainda surgir mais entraves de ambos os lados. “Em primeiro lugar, porque o Governo cubano estabeleceu limites para a mudança”, escreve Tomas Aquilino Sanchez no Guardian. Depois, como escreve no El País Héctor Schamis, conselheiro académico do Centro de Abertura e Desenvolvimento da América Latina, porque o mandato de Obama termina em 2017 e há o risco de uma Administração futura retroceder na abertura a Cuba. “Obama é agora o narrador, ainda que o deixe de ser até Janeiro de 2017; e a América Latina não parece saber o que dizer nem o que fazer”.

Por enquanto, a aproximação entre os dois países poderá ser sobretudo económica. Para a editora da BBC para a América Latina, Vanessa Buschschluter, o tom principal do encontro entre Obama e Castro foi a reafirmação de que as relações económicas entre os dois países podem ser normalizadas apesar das divergências entre os dois. “[A] mensagem foi clara: temos as nossas divergências, mas podemos fazer negócios um com o outro”, escreveu.

Essas divergências recaem também em temas como os direitos humanos em Cuba. As mesmas divergências que justificam parte da tensão entre Estados Unidos e Venezuela, por exemplo – uma tensão que ficou em segundo plano ao longo da cimeira. O Presidente dos EUA apontou para isso mesmo no fim da sua reunião com Raúl Castro.

“Temos visões muito diferentes sobre como uma sociedade deve estar organizada. E eu fui muito directo com ele [Raúl Castro]. Os EUA não vão parar de falar sobre direitos humanos, liberdade de expressão e de liberdade de imprensa”, disse Obama. 
 

   


 

   





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