Ataques aéreos intensificam-se na capital do Iémen
Dezenas de diplomatas retirados de Áden, no Sul do país, pela Arábia Saudita, que voltou a atacar na madrugada de sábado locais controlados pelos huthis. Ex-presidente iemenita apela ao fim das operações militares e ao diálogo.
Na capital do Iémen, Sanaa, que fica no interior da região ocidental do país, “os vidros tremeram”, descreveu à AFP uma estrangeira que trabalha para uma organização humanitária. “Foi uma noite intensa de bombardeamentos”, acrescentou. “As pessoas querem partir, mas não existem aviões para abandonar o Iémen.”
Desde Setembro que as milícias huthis controlam militarmente Sanaa, obrigando o presidente do Iémen, Abd Mansour Hadi, a refugiar-se em Áden. Os huthis, uma seita do islão xiita, serão 30% dos 25 milhões de cidadãos iemenitas. A maioria da população do Iémen é sunita, outra vertente do islão. O ataque da coligação de dez países, onde se incluem os Emirados Árabes Unidos, o Qatar, o Bahrein, o Kuwait, entre outros, tem como objectivo travar o avanço dos huthis e fazer frente ao Irão, uma grande força xiita que tem estado presente na Península Arábica.
O Iemén, situado na costa no Sudoeste da Península Arábica, tem uma importância preponderante no controlo da rota marinha do petróleo que passa pelo Mar Vermelho e o Golfo de Áden.
“Faremos o que for preciso para impedir a queda do Governo legítimo do Iémen”, afirmou, em Washington, o embaixador saudita, Adel al-Jubeir. “A mudança estratégica na região beneficia o Irão e nós não podemos ficar silenciosos quando os huthis combatem sob a sua bandeira”, disse, Anwar Mohammed Gargash, ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados. Os Estados Unidos e o Reino Unido já apoiaram esta intervenção, e a França disse que o apoio do Irão aos huthis não era legítimo.
Os ataques aéreos – não houve entrada terrestre por parte da coligação no Iémen, apesar de haver 150 mil soldados na fronteira – iniciaram-se na noite de quarta para quinta-feira desta semana, sem qualquer aviso. Neste sábado, os ataques na capital só terminaram às 6h locais (3h, em Lisboa) e concentraram-se nos arredores, principalmente a leste e a oeste de Sanaa, atingindo principalmente posições de defesa antiaérea e depósitos de munições, de acordo com a AFP.
Em Áden, a situação nas ruas está cada vez mais caótica e tensa, com grupos de rebeldes huthis em confronto com membros de “comités populares” em vários quarteirões da cidade, de acordo com a AFP. Segundo testemunhas, homens armados usaram pedras e troncos de árvores para barrarem as estradas e controlarem as vias da cidade. Durante confrontos no aeroporto da cidade, oito pessoas foram mortas.
Entretanto, a Arábia Saudita retirou dezenas de diplomatas, muitos deles sauditas, da cidade costeira. “As forças da marinha saudita conduziram a operação Tornado para retirar dezenas de diplomatas”, indicou o canal de televisão Al-Ekhbariya, da Arábia Saudita. “Eles chegaram mais tarde a Jidá [cidade na costa Oeste da Arábia Saudita], a bordo de dois navios da marinha” saudita, acrescentou o mesmo canal, citado pela AFP.
Segundo os responsáveis pela coligação, o espaço aéreo do Iémen está controlado. “O espaço aéreo está completamente controlado pelas foças da coligação”, disse na sexta-feira Ahmed Assiri, general e porta-voz, numa conferência de imprensa em Riad, a capital saudita. “Não há qualquer movimento da aviação iemenita” depois da coligação “ter destruído os aviões que estavam no solo”, citou a AFP. O general disse ainda que, na sexta-feira, a base aérea de Al-Anad, a mais importante do país situada 50 quilómetros a norte de Áden, tinha sido alvo de ataques aéreos “para impedir os huthis de a utilizar”.
Desde o início das operações, já morreram 39 civis devido aos ataques aéreos, segundo os responsáveis dos serviços de saúde em Sanaa, que está controlada pelos huthis. O número não foi confirmado por uma fonte independente, mas Ali Abdullah Saleh – ex-presidente do Iémen que há três anos foi forçado a abandonar o cargo – apelou ao fim “simultâneo” das operações militares.
O ex-presidente tem um grande apoio por parte das forças armadas do Iémen e coligou-se com os huthis. Agora, Ali Abdullah Saleh apela a um diálogo inter-iemenita sob a supervisão da Organização das Nações Unidas (ONU), e propõe que esse diálogo seja feito nos Emirados Árabes Unidos.
Tanto o presidente iraniano, Hassan Rohani, como o chefe do Hezbollah e pró-irão, Hassan Nasrallah, vieram criticar a intervenção militar no Iémen. O chefe dos rebeldes huthis, Abdel Malek al-Houthi, disse que a operação era uma “invasão”.