O cenário de horror que o Boko Haram deixou para trás
Soldados internacionais que recuperaram o controlo da localidade Damasak encontraram dezenas de cadáveres, degolados ou decapitados, e já parcialmente mumificados.
As tropas internacionais encontraram um cenário de horror após a retirada dos extremistas, que se instalaram em Damasak em Novembro. Segundo as agências, os soldados sentiram um forte cheiro de decomposição no ar, e também um trilho de sangue escurecido marcado no chão, que conduzia até ao leito de um rio. Aí, junto a uma ponte de cimento, as tropas depararam-se com dezenas de cadáveres empilhados, um dos quais decapitado e vários outros degolados.
Pela sua disposição, os soldados acreditam que a ponte, na principal estrada de saída de Damasak, era utilizada como um local de execuções em massa, com os corpos a serem atirados para o rio. Os cadáveres estavam já escondidos pela vegetação, e parcialmente mumificados pela exposição ao vento seco do deserto – as autoridades admitem que podem ter sido mortos há três meses, quando o Boko Haram tomou conta da localidade.
Segundo o relato dos habitantes de Damasak, os mortos são os homens que não conseguiram escapar à chegada dos extremistas – incluindo o imã da cidade. “As pessoas que estavam na cidade quando o Boko Haram chegou, aos tiros contra nós, começaram a correr, em fuga para o mato. Mas eles foram em perseguição, e mataram todos os que conseguiram apanhar”, contou à Reuters Mbodou Moussa, um dos cerca de 50 residentes que ficaram para trás por estarem demasiado velhos ou doentes para fugir.
Uma ofensiva regional, lançada pelo Exército da Nigéria com o apoio dos vizinhos do Chade, Níger e Camarões, tem vindo a recuperar território outrora ocupado pelo Boko Haram, que no início deste ano controlava 20 municípios no Norte e Nordeste do país (uma área equivalente ao território da Bélgica). O comando nigeriano garante que já conseguiu recuperar quase todas essas bases – só três municípios permanecerão ainda sob o domínio dos extremistas.
Mas mesmo em retirada, os militantes têm atacado com violência: na quinta-feira, dez civis foram mortos pelos homens do Boko Haram de passagem pela localidade de Gamburu, na fronteira com os Camarões.
Os esforços militares contra os islamistas foram intensificados em antecipação das eleições presidenciais do próximo dia 28: o Presidente Goodluck Jonathan, que corre por um novo mandato, tem sido criticado pela frouxidão no combate à insurreição islamista. O seu adversário, o general na reforma Muhammadu Buhari, que governou o país durante o regime militar da década de 80, baseou a sua campanha na promessa de mão pesada contra os militantes.
Esta semana, numa manifestação de confiança na missão multinacional, o Presidente estimou que a insurreição que começou uma violenta de expansão da sua base em Maiduguri há mais de cinco anos, poderia estar erradicada dentro de um mês. “Cada dia que passa eles ficam mais fracos”, garantiu, numa entrevista à BBC.
“É verdade que nunca esperamos que eles viessem a desenvolver tamanhas capacidades. Avaliamos mal e por isso menosprezados a influência externa. Como depois da nossa guerra civil não voltamos a estar envolvidos em qualquer conflito, e como não produzimos armamento, tivemos de pedir ajuda para reequipar o nosso Exército e Força Aérea”, admitiu o Presidente, para justificar o fracasso na luta contra os insurrectos.
O Boko Haram foi criado em 2002, como uma milícia islamista anti-ocidental: segundo a sua interpretação do islão, a educação é “haram”, ou proibida, tal como qualquer outra actividade política ou social associada ao Ocidente. Em 2009, a organização iniciou uma missão de combate com o objectivo de estabelecer um califado, e no início deste mês jurou aliança e fidelidade ao Estado Islâmico.