Afeganistão nomeia novo Governo após longos meses de impasse
Presidente e o seu antigo rival entenderam-se para formar um governo que integra representantes dos dois campos.
Os nomes dos 25 ministros – incluindo três mulheres – foi lido pelo chefe de gabinete do Presidente, numa cerimónia em que Ghani, no poder desde 29 de Setembro, esteve presente mas não fez qualquer declaração. Segundo as agências internacionais, a lista revela um propositado equilíbrio entre os dois campos e as principais etnias que compõem o Afeganistão, com as quatro principais pastas a serem divididas em igual porção entre os apoiantes de Ghani e Abdullah.
O general Sher Mohammad Karimi, um pashtun (etnia maioritária do Afeganistão, a que pertence o Presidente) considerado próximo do chefe de Estado, foi o escolhido para chefiar a Defesa, enquanto Nur ul-Haq Ulumi, igualmente um pashtun mas apoiante de Abdullah (de etnia tajique) será o titular do Ministério do Interior. É sobre os dois que recairá a tarefa de coordenar os cerca de 350 mil efectivos que, desde a retirada das tropas da NATO, em Dezembro são agora os responsáveis pela segurança do país, numa altura em que a rebelião taliban continua a mostrar a sua força – 2014 foi o ano mais mortífero tanto para os militares como para os civis afegãos.
O Ministério das Finanças será ocupado por Ghulam Jailani Popal, um pashtun apoiante do novo Presidente – que ocupou ele própria a pasta num dos governos de Hamid Karzai – ao passo que o próximo chefe da diplomacia será Salahuddin Rabbani, um tajique aliado de Abdullah e filho do antigo chefe do Alto Conselho para a Paz, criado por Cabul para tentar negociar a paz com os taliban. Entre as três ministras está Najeeba Ayoubi, uma jornalista e activista dos direitos humanos, que assumirá a tutela das Questões Femininas.
Este não é ainda o executivo tecnocrático e livre das redes de interesse prometido por Ghani. “Muitos deles fizeram campanha por um ou outro campo em troca de algo”, disse à Reuters Zia Rafat, professor de Ciência Política da Universidade de Cabul. Mas outros observadores afirmam que a inclusão de nomes menos conhecidos poderá indiciar uma tentativa de dar um cunho mais reformista ao governo. “Nota-se que o Presidente e Abdullah trabalharam arduamente para conseguir as melhores escolhas, mas dificilmente podemos dizer que todas as expectativas foram cumpridas”, resumiu à AFP o politólogo afegão Haroon Mir.
Não há ainda data para a entrada em funções do executivo, mas a sua nomeação é já um bom indício. Se o Parlamento aprovar o elenco, as instituições paralisadas há meses poderão voltar a funcionar em pleno e é de novo afastado o cenário de um regresso da violência étnica, alimentando pelas acusações de fraude trocadas entre Ghani e Abdullah após a segunda volta das presidenciais, em Junho, e que só foram resolvidas por um acordo de partilha de poder mediado pela ONU e os EUA.