Morreu Ulrich Beck, o sociólogo alemão da "sociedade de risco"
Era considerado um dos mais influentes sociólogos da actualidade, uma referência da sociologia contemporânea.
Nascido em 1944 na Pomerânia, Ulrich Beck cresceu em Hanôver e fez todos os seus estudos (sociologia, filosofia, psicologia e ciências politicas) em Munique. O sociólogo, talvez o investigador mais citado da actualidade, ganhou notoriedade em 1986 com a publicação da obra Sociedade de Risco (Riskiogesellschaft), que foi nos últimos anos traduzida para mais de 30 idiomas.
Em Sociedade de Risco, o alemão descrevia como o contexto económico, numa sociedade em mudança, e a sua influência nas ideologias individuais, contribuíram para os excessos da sociedade de risco. A obra, que foi primeiro traduzida para inglês em 1992 e só mais recentemente para português, no Brasil, na editora 34, teve um grande impacto na sociedade. Beck defendia que as estruturas tradicionais que marcavam os limites da desigualdade e da insegurança estavam a ser profundamente alteradas por processos de individualização e de fragmentação familiar social.
Ulrich Beck destacava-se porque falava de uma outra modernidade. Para si, "a produção social da riqueza" era inseparável da "produção social de riscos”. O risco, que não é igual para todos, democratizava-se, podendo afectar de forma inesperada pessoas e grupos que até então se mantinham estáveis.
Beck, que foi professor da Universidade de Munique e na London School of Economics, era também nos últimos anos um dos grandes críticos da Alemanha, que lhe parecia estar apostada numa estratégia de hesitação a que chamava “Merkiavel”. No seu entender, impunha-se um contrato social novo, gerador de mais democracia.
O seu livro, A Europa Alemã. De Maquiavel a “Merkievel”: Estratégias de Poder na Crise do Euro, chegou às livrarias portuguesas em 2013 pela Edições 70. Neste ensaio, o sociólogo considera que vivemos já numa “Europa alemã”. O livro aborda várias questões do “projecto europeu”, como os problemas de uma união bancária, dado que os bancos vivem à escala transnacional mas morrem à escala nacional, sendo a factura paga pelos Estados a que pertencem e seus contribuintes. Beck criticava veementemente a saída de certos países do euro, o que criaria uma Europa a três velocidades: a daqueles que conseguiram manter-se na moeda única, a dos que nunca a quiseram integrar e, enfim, a dos que foram incapazes de cumprir as exigências da união monetária.
O sociólogo foi um dos convidados do Congresso Português de Sociologia, que aconteceu em Abril do ano passado em Évora. Coube a Beck a abertura do congresso, onde falou sobre uma “europeização improvisada”.