Chefe militar da NATO denuncia instalação de mísseis russos na Crimeia
Philip Breedlove teme controlo de Moscovo sobre todo o mar Negro.
“Estamos muito inquietos com a militarização da Crimeia”, disse Breedlove, esta quarta-feira, em Kiev, numa conferência de imprensa. Segundo a AFP, o chefe militar da aliança atlântica manifestou também preocupação por uma eventual instalação de armas nucleares na península.
“O equipamento que está em vias de ser instalado na Crimeia [...], os mísseis de cruzeiro e os mísseis antiaéreos, pode ter no seu raio de alcance a totalidade [da região] do mar Negro”, afirmou também.
Nas últimas semanas, a Rússia reforçou a sua presença militar na península da Crimeia. A agência noticiosa lembra que as autoridades de Moscovo decidiram reabrir uma estação de alerta antimíssil e destinar 1,75 mil milhões de euros até 2020 ao apetrechamento da sua frota do mar Negro.
O Ministério da Defesa russo anunciou ainda a deslocação de 14 caças para a Crimeia, onde a Rússia tem uma renovada base aérea. Os aparelhos foram de Krasnodar para a base de Belbek, segundo a agência russa Interfax. O objectivo é vir a ter ali estacionada uma esquadrilha de 30 aeronaves.
Na terça-feira, Philip Breedlove tinha já repetido a acusação de dirigentes de países ocidentais de que um elevado número de militares russos se encontra em território ucraniano, a treinar e a aconselhar rebeldes pró-russos do Leste da Ucrânia que enfrentam o exército de Kiev. Os confrontos na região do Donbass, que faz fronteira com a Rússia, já causaram desde Abril a morte de mais de 4300 pessoas.
A Rússia continua a negar o seu envolvimento, embora os países ocidentais reafirmem que Moscovo participa no conflito. Foi o que voltou a fazer a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta quarta-feira. “Nada justifica ou desculpa a anexação da Crimeia pela Rússia… Nada justifica a participação directa ou indirecta da Rússia nos combates em Donetsk e Lugansk”, disse, no parlamento alemão. “A Rússia está a pôr em causa a ordem pacífica da Europa e a atropelar o direito internacional”, afirmou, citada pela Reuters
A visita de Breedlove à Ucrânia ocorreu numa altura em que as autoridades pró-ocidentais de Kiev tentam relançar o seu projecto de adesão à Aliança Atlântica, após a anexação da Crimeia pela Rússia e o início da rebelião separatista do Leste da Ucrânia.
Mas as pretensões de adesão manifestadas pela liderança ucraniana tiveram respostas vagas do comandante militar da NATO, que remeteu esse tipo de decisão para os políticos.
Mesmo os aliados mais próximos do Governo de Kiev mantêm reservas face ao desejo ucraniano. Na semana passada, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, disse à revista Der Spiegel que é viável uma “parceria entre a Ucrânia e a NATO, mas não uma adesão”. Esta quarta-feira, numa entrevista ao site independente russo Medusa, citada pela AFP, Victoria Nuland, a vice-secretária de Estado norte-americana para os Assuntos Europeus, considerou uma adesão da Ucrânia à UE “muito difícil”.