Registados 40 incidentes entre a Rússia e a NATO desde Março

Episódios sensíveis têm aumentado tanto em número como em gravidade nos últimos meses, de acordo com um estudo europeu que refere um “quadro altamente perturbador” nas relações entre a Rússia e a NATO.

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A NATO alertou recentemente para "níveis incomuns" de manobras aeronáuticas russas no espaço aéreo europeu Reuters

Nas últimas duas décadas têm sido comuns os exercícios militares, tanto da parte da NATO como da Rússia, com o objectivo de testar a resposta do outro lado. No entanto, os últimos tempos têm conhecido uma intensificação deste tipo de incidentes e os limites têm sido constantemente desafiados, diz o estudo “Diplomacia Arriscada: Encontros Militares Próximos entre a Rússia e o Ocidente em 2014” elaborado pelo European Leadership Network, uma plataforma europeia especializada em segurança e defesa.

A própria NATO já tinha revelado que desde o início do ano foram interceptados mais de cem aviões militares russos, o triplo do que foi registado em 2013. Um dos episódios mais recentes envolveu a escolta por caças F-16 da Força Aérea Portuguesa de dois bombardeiros russos, que se encontravam em espaço aéreo internacional sob jurisdição portuguesa.

O relatório, baseado em dados públicos da NATO e da imprensa europeia e norte-americana, descreve “um quadro altamente perturbador de violações do espaço aéreo nacional, marchas de emergência, colisões aéreas dificilmente evitadas, encontros próximos no mar e outras acções perigosas que aconteceram de uma forma regular numa área geográfica alargada”.

“Apesar de o confronto militar ter sido evitado até agora, a mistura entre uma postura russa mais agressiva e a prontidão das forças ocidentais em mostrar resposta aumenta o risco de aumento de tensão não intencionada e o perigo de se perder o controlo sobre os acontecimentos”, alerta o relatório.

Os autores do estudo dividiram os casos analisados em três categorias, de acordo com o nível de risco militar. Há 14 episódios classificados como “graves com risco de aumentar a tensão” ou como “alto risco”. Os restantes são considerados “próximos da rotina”, ou seja, fazem parte daqueles que são os padrões de interacção entre a Rússia e a NATO “previamente estabelecidos”.

Um dos casos mais graves ocorreu a 3 de Março quando um avião comercial da companhia dinamarquesa SAS, com 132 passageiros a bordo, esteve perto de colidir com uma aeronave de reconhecimento russa, que não informou sobre a sua posição. Os outros dois incidentes classificados de “alto risco” foram o rapto e a detenção de um diplomata estónio, acusado de espionagem por Moscovo, e a caça ao submarino militar que penetrou nas águas territoriais suecas, levando a uma operação militar sem precedentes – o submarino não foi localizado e a Rússia negou qualquer envolvimento.

Para os autores do relatório, estes episódios estão fortemente relacionados com os desenvolvimentos da crise na Ucrânia. A queda do ex-Presidente, Viktor Ianukovich, após ter recusado a assinatura de um acordo de parceria com a União Europeia, foi vista por Moscovo como um golpe de estado apoiado pelas potências ocidentais, com o objectivo de alargar as fronteiras do bloco europeu e da NATO.

As manobras militares dos últimos meses são “a demonstração da capacidade da Rússia de usar a força de forma efectiva para intimidação e coerção, particularmente contra os seus vizinhos mais próximos”, alerta o relatório.

Perante o aumento da tensão a níveis sem precedentes desde o final da Guerra Fria, os autores do estudo deixam três recomendações destinadas a todas as partes. “A liderança russa deve reavaliar urgentemente os custos e os riscos de continuar a sua postura militarmente mais assertiva e a diplomacia ocidental deve concentrar-se em persuadir a Rússia a alcançar esta meta”. Para além disso, “todas as partes devem demonstrar contenção política e militar” e devem “melhorar a comunicação e a transparência ao nível militar”.

É incerto, porém, que este quadro de tensão possa vir a ser revertido. “Este tipo de comportamento arrisca a tornar-se a nova norma”, observa o correspondente diplomático da BBC, Jonathan Marcus, que destaca as “tensões por resolver” em relação à Ucrânia, a “trajectória geral da política externa russa e as pressões vindas dos aliados da NATO que se sentem mais ameaçados, como os polacos”, como os factores para a manutenção deste cenário.

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