O aroma do “café com leite”

A aliança que durante a República Velha manteve a rotação no poder entre São Paulo e Minas ainda faz sentido.

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Dilma Rousseff e Lula da Silva, os dois presidentes eleitos pelo PT REUTERS/Nacho Doce

Outro sinal de que a tradição ainda é o que era é o facto de, ganhe quem ganhar no dia 26, o Brasil terá um presidente de Minas Gerais, o estado que juntamente com São Paulo e o Rio Grande do Sul tem dominado a política brasileira. Dilma é uma mineira que fez a sua carreira política no Rio Grande do Sul e Aécio é um mineiro que dá continuidade a uma longa tradição política no Estado - havia um terceiro candidato de Minas, Levy Fidelix, que se destacou pela sua pose homofóbica num debate na televisão. Mas os seus candidatos a vice-presidente, Michel Temer e Aloysio Nunes, são paulistas.

A aliança “café com leite”, que durante a República Velha, deposta em 1930, manteve a rotação no poder entre São Paulo e Minas, ainda faz sentido. Quanto mais não seja porque, juntos, os dois estados representam um terço do total dos votos no Brasil. Nesta disputa, a candidatura de Marina Silva era mesmo uma alternativa ao padrão do balanço do poder em Brasília: Marina é do remoto estado do Acre.

Dizer que os mineiros mandam no Brasil em conluio com os paulistas não é, no entanto, comprovável com o rol de presidentes que, depois de 1930, ocuparam o poder no Rio de Janeiro e, depois de 21 de Abril de 1960, em Brasília. Juscelino Kubitchek, que governou entre 1956 e 1961, era um mineiro de Diamantina, uma pequena cidade do interior do estado perto de São João del Rei, onde nasceram Tancredo Neves, a personalidade fundamental da transição da ditadura para a democracia em 1985, e o seu neto Aécio. Mas Getúlio Vargas e João Goulart eram gaúchos, Collor de Mello de Alagoas, José Sarney do Maranhão e Lula nordestino de origem – embora tenha construído a sua imagem política no coração industrial do país, em São Paulo, estado de onde são igualmente originários o efémero e histriónico Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso.

Já durante a Ditadura Militar, Castello Branco era de Fortaleza, Ceará, Costa e Silva, Emídio Médici e Ernesto Geisel do Rio Grande do Sul e João Baptista Figueiredo carioca.

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