Seguro fez uma promessa, Costa não fez nenhuma

Seguro fez a única promessa do primeiro debate entre os dois candidatos do PS: sair do Governo caso subisse impostos. Costa evitou compromissos e deixou para mais tarde as suas propostas.

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Não se centrou em propostas políticas ou ideológicas. O primeiro frente-a-frente televisivo entre o secretário-geral do PS, António José Seguro, e o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, ficou marcado pelos ataques pessoais.

Foi Seguro quem desferiu o primeiro golpe, depois de desafiado para isso. Arrancou a todo o gás – esteve muito solto ao longo dos 40 minutos - para acusar o oponente de “deslealdade e traição” e de fazer um “jogo de ambições pessoais”. A cada oportunidade que tinha jogava essa carta. “Por que é que não cumpriste a tua palavra?”, perguntou a dada altura a António Costa.

Acusou o autarca de ziguezaguear a propósito do Orçamento do Estado de 2012, por “em público dizer uma coisa [abstenção] e em privado outra [votar contra]”. Acusou o seu adversário de quebrar uma tradição, de “40 anos de democracia”, de “todos os líderes do PS terem a oportunidade de disputar as legislativas”.

Um António Costa mais tenso – chegou a engasgar-se no arranque da declaração final - ainda tentou evitar que o nível se fosse derramando. Mas evitou durante pouco tempo. Não deixou passar o argumento da tradição dos 40 anos. “Só alguém que não tem consciência sobre o estado do país é que pode achar que ir para o poder agora não é uma enorme responsabilidade, mas um prémio”, atirou a Seguro.

Também não deixou passar a acusação de Seguro de ter dado um “presente” à direita com a sua candidatura: “Eu não queria ser desagradável, mas logo após as europeias, toda a gente percebeu que o PS não ia conseguir ganhar as legislativas.” Antes de perder a fleuma, já tinha alfinetado o líder contestado, ao afirmar que não tinha avançado antes porque não pautava a sua conduta no PS com “uma razão calculista” a apontar à liderança do partido.

Não se debateu, portanto, a Segurança Social, o Serviço Nacional de Saúde, a Educação ou Economia. Discutiu-se, por exemplo, José Sócrates. Por iniciativa de Seguro que explicou a votação mais reduzida no PS com o passado recente: "Muitos portugueses olham para o PS como sendo responsável pela situação a que o país chegou."

Costa foi atrás: “Temos que defender o que fizemos bem e o que fizemos de errado. Critiquei alguns erros. O PS usou a maioria absoluta com auto-suficiência sem aproveitar diálogo político e acordos alargados”, admitiu. E concretizou um desses erros ao admitir que se subestimara "a importância de conseguir acordos alargados, por exemplo nos contratos de infra-estruturas, que vinculam o país por muitos anos".

Por seu turno, Costa fez questão de focar em 2012 o seu regresso ao passado socialista. Criticou Seguro por não ter tido a coragem de votar contra o primeiro Orçamento de Estado da legislatura, em que o Governo assumiu que queria ir “para além da troika”. E pôs sal nessa ferida ao lembrar que o chumbo do Tribunal Constitucional a esse OE só fora possível depois de alguns deputados socialistas se “socorrerem” das assinaturas do PCP e BE.

Os poucos minutos de medidas e políticas centraram-se em impostos, salário mínimo e coligações. Com sinais de divergência entre os dois socialistas.

Seguro foi taxativo e quantificativo. “Não aumentarei a carga fiscal”, prometeu antes de nomear o IRS, IRC e IVA. Ensaiou aí uma frase lapidar e a única espécie de novidade do debate: “Não surpreenderei os portugueses quando chegar ao Governo e garanto que me demitirei se não houver outra alternativa [ao aumento de impostos]”.

Em contrapartida, Costa foi vago sobre esse tema. Falou num “momento próprio” para anunciar esse tipo de garantias, defendeu os méritos de se ser “prudente neste momento” devido às “muitas variáveis” que ainda podiam ter o seu impacto até ao momento das legislativas.

Mas o tema das coligações inverteu as posições. Seguro foi mais vago sobre com quem aceitaria governar ao afirmar que, caso fosse necessário, teria de “procurar o acordo parlamentar” para sustentar um seu Governo. Como já afirmara antes, a sua linha vermelha era um partido que colocasse em causa o Estado social.

António Costa, por seu turno, foi mais ruidoso a bater portas sobre o tema. “Não podemos ser parceiros com PSD e CDS, isso seria trair a vontade dos portugueses”, afirmou peremptoriamente.

 

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