Modelo matemático permitiu identificar cinco grandes “manchas” de lixo nos oceanos

O novo modelo redesenha os limites dos oceanos, revelando nos fluxos globais de lixo ligações imprevistas entre as suas águas superficiais.

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As manchas de lixo são uma “sopa de plástico”composta por pequenas partículas Sea Education Association

Agora, graças a um modelo dos fluxos globais das águas oceânicas de superfície, cientistas da Universidade da Nova Gales do Sul, na Austrália, identificaram e determinaram a localização mais provável de cinco grandes manchas (incluindo a GMLP). E pensam que os seus resultados poderão ajudar a saber que países são responsáveis por cada uma delas.

Diga-se antes de mais que a GMLP, descrita como um “continente” de lixo a flutuar no Pacífico Norte, não é uma massa compacta de objectos reconhecíveis sobre a qual seria possível andar a pé. É mais como uma “sopa de plástico”, composta por pequenas partículas que se encontram em suspensão nas águas superficiais. Mas não é por isso menos inquietante: nessa região, as águas contêm mais partículas de plástico do que plâncton e o impacto desse lixo sobre a vida marinha – e sobre a cadeia alimentar em geral – permanece em grande parte uma incógnita.

No seu artigo, publicado esta terça-feira na revista Chaos, os matemáticos Gary Froyland e Robyn Stuart e o oceanógrafo Erik van Sebille escrevem que o seu estudo “põe claramente em evidência cinco manchas de lixo nos oceanos”, respectivamente no Pacífico Norte e Pacífico Sul, no Índico e no Atlântico Norte e Atlântico Sul.

Porém, certas ligações entre as várias regiões oceânicas revelaram-se por vezes imprevistas. O que faz dizer a Froyland, em comunicado da editora daquela revista, que “nalguns casos, é possível que um país distante de uma dada mancha de lixo esteja, inesperadamente, a contribuir directamente para a acumulação desse lixo”.

Para criar o novo modelo, os cientistas recorreram aos métodos de um ramo da matemática chamado “teoria ergódica”, que tem sido utilizada para efectuar partições de sistemas interligados tais como a Internet, “revelando assim a sua estrutura subjacente sem se ficar atolado em simulações complexas”, lê-se no mesmo comunicado.

“Em vez de utilizar um supercomputador para simular os movimentos de trilhões de trilhões de partículas na superfície da água, construímos um modelo em rede compacto que ‘captura’ as propriedades essenciais das interligações entre as diversas partes dos oceanos”, frisa Froyland.

No estudo, os autores procuraram delimitar “as regiões em que as águas, a biomassa e os poluentes ficam cativos ‘para sempre’ (…) ou durante muito tempo”. E conseguiram assim dividir o oceano global em sete regiões cujas águas se misturam muito pouco.

“O nosso modelo é mais compacto do que as simulações convencionais de partículas oceânicas porque consiste em juntar muitas trajectórias curtas (os percursos das partículas no oceano) de forma a obter, de forma eficiente, estimativas de como as concentrações de substâncias sobre ou dentro da superfície da água evoluem durante longos períodos de tempo", disse Froyland ao PÚBLICO. "As simulações convencionais teriam de simular gigantescos números de trajectórias muito compridas, o que é muito menos eficiente, em particular quando se trata de estimar concentrações a muito longo prazo no futuro.”

Um dos resultados desta “descomposição dinâmica da superfície global dos oceanos”, escrevem ainda, foi que o “Atlantico e o Pacífico estão divididos em norte e sul, mais ou menos ao nível da linha do Equador, mas que o Oceano Índico é uma única entidade” em toda a sua extensão de norte a sul. Mais surpreendente ainda é o facto de que partes dos oceanos Pacífico e Índico estão na realidade fortemente ligados ao Atlântico Sul, enquanto uma outra fatia do Índico pertence de facto ao Pacífico Sul, explica o já referido comunicado. Por isso, o mais provável é que, por exemplo, detritos vindos de Madagáscar e Moçambique acabem no Atlântico Sul, apesar de as suas costas se situarem no Índico.

“O que fizemos foi redefinir as fronteiras das bacias oceânicas em conformidade com a deslocação das águas”, diz van Sebille. Os cientistas frisam ainda que o novo modelo poderá também ser aplicado a fenómenos em escalas mais pequenas, por exemplo para simular a difusão de marés negras.

Notícia actualizada no dia 03/09/2014 com declarações de Gary Froyland ao PÚBLICO.

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