Curdos do Iraque, Síria e Turquia unem-se para combater jihadistas
Em fuga dos combatentes do Estado Islâmico estão centenas de milhares de membros de minorias étnicas e religiosas do Iraque, incluindo 200 mil de uma só comunidade, os yazidis.
Foi durante o fim-de-semana que os peshmerga, os combatentes curdos que têm conseguido impedir os avanços do EI desde que o grupo avançou para tomar de assalto Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, se viram sem munições e obrigados a retirar para reagrupar e mudar de estratégia.
De repente, alianças improváveis tornaram-se na última saída. Assim, os curdos do PKK turco, do PYD sírio e os peshmerga dos partidos iraquianos anunciaram uma nova aliança. Menos provável ainda, o Governo iraquiano do xiita Nouri al-Maliki decidiu dar apoio aéreo às operações terrestres curdas. Um bombardeamento esta quarta-feira em Mossul matou 30 pessoas: segundo a BBC, o alvo era uma prisão usada pelo EI e algumas das vítimas são civis que os milicianos tinham feito reféns; outros terão conseguido escapar.
Maliki autorizou os raides aéreos em apoio aos curdos no Norte do país depois de os peshmerga terem perdido o controlo de uma série de vilas. Em curso está já uma contra-ofensiva – os peshmerga querem recuperar Sinjar e Zumar, dizem responsáveis curdos e da ONU, mas ainda não o conseguiram.
À medida que levavam centenas de milhares a fugir, os combatentes tentaram tomar a barragem de Mossul e a de Hadhita. A primeira, no Norte, é a maior do país; a segunda, no ocidente (zona por onde os jihadistas começaram por chegar ao país, em Dezembro, vindos da Síria), é um complexo com seis geradores erguido ao longo do segundo maior reservatório de água do país,
Entretanto, e depois da fuga de milhões de residentes de Mossul com a entrada dos jihadistas, no início de Junho, cada vez que o EI conquista mais território há outras centenas de milhares de pessoas em fuga. Em especial, as minorias religiosas que estes muçulmanos sunitas radicais atacam sem necessidade de qualquer pretexto. Cristãos, muçulmanos xiitas, turcomanos, yazidis…
Muitos do que tinham fugido de Mossul para a região autónoma do Curdistão, mais a Norte, refugiando-se, por exemplo, em Sinjar, voltam agora a ter de fugir. Só 200 mil são yazidis (quase todos os que sobram no país e mais de metade do que resta desta comunidade curda, desde sempre perseguida, em todo o mundo). Com eles fogem cristãos ou xiitas, à medida que o EI rapta jovens e destrói os seus santuários na província curda de Dohuk, como antes fizera em Mossul.
Para além de 200 mil yazidis em fuga (incluindo 50 mil perdidos nas montanhas: “Muitos, principalmente os mais velhos, crianças e grávidas, já morreram”, diz à Reuters Jabbar Yawar, secretário-geral do Ministério da Defesa curda), há uma vila turcomana com 20 mil pessoas, 160 quilómetros a norte de Bagdad, cercada pelos jihadistas há quase dois meses. Amerli resiste, 30 aldeias em redor já foram ocupadas pelo EI, mas está sem água potável ou electricidade.
O EI, que quando entrou no Iraque se chamava ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) e declarou um califado em parte do país, pretendendo incluir neste a Síria, o Líbano ou partes da Turquia, congratula-se por estar a atacar em várias frentes e por ter alcançado “o triângulo fronteiriço entre o Iraque a Síria e a Turquia”. Em Ancara, o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco afirmou que a estabilidade do Norte do Iraque é estratégica para a Turquia e anunciou que tomará todas as medidas para proteger as suas fronteiras.