Filhos do Vento vence Prémio Gazeta Multimédia

A reportagem Filhos do Vento, de Catarina Gomes, Ricardo Rezende e Manuel Roberto, foi distinguida com o Prémio Gazeta na categoria Multimédia, atribuído pelo Clube de Jornalistas. Uma história sobre um tema tabu na sociedade portuguesa.

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Manuel Roberto/PÚBLICO

Os Filhos do Vento: Em Busca do Pai Tuga conta a história de guineenses filhos de militares portugueses que estiveram na Guiné-Bissau durante a guerra colonial e que querem conhecer os seus pais. A jornalista Catarina Gomes, o videojornalista Ricardo Rezende e o fotojornalista Manuel Roberto viajaram até à Guiné em Maio de 2013 em busca de alguns desses filhos.

Em comunicado, o Clube de Jornalistas elogia uma reportagem que cruza diferentes meios com grande eficácia, num trabalho de equipa ao melhor nível do ciberjornalismo. Para a jornalista Catarina Gomes, a distinção é o reconhecimento de um novo caminho que a imprensa escrita – e em particular o PÚBLICO – está a trilhar, em que o texto se alia à imagem em movimento, criando novas portas de entrada na mesma história. É a primeira vez que o prémio Gazeta Multimédia – categoria criada em 2010 – é atribuído a um trabalho que teve origem e foi publicado num órgão de comunicação social. Nos dois primeiros anos, o prémio não havia sido atribuído por falta de qualidade dos trabalhos, justificou o Clube de Jornalistas, e no ano passado foi entregue a Tiago Carrasco, João Fontes e João Henriques pelo documentário A Estrada da Revolução.

Este prémio tem um enorme significado, diz Sérgio Gomes, editor de plataformas e multimédia do PÚBLICO. As secções Multimédia afirmam-se cada vez mais nas redacções em Portugal. São hoje um vector fundamental para os projectos de media que têm a ambição de inovar ou tão simplesmente acompanhar os hábitos de consumo e recepção de reportagens e de noticiário, que hoje estão muito mais dependentes da imagem e de formas alternativas de apresentar histórias. Desde há muito que o jornal compreendeu a necessidade de formar uma secção autónoma que soubesse responder aos enormes desafios editoriais que se levantam de cada vez que nos deparamos com histórias como a que foi contada em Filhos do Vento.

A reportagem Filhos do Vento materializou-se, a par do texto publicado na edição impressa, num site especial concebido por Dinis Correia e Andrea Espadinha, onde foram disponibilizadas reportagens em vídeo, fotogalerias e ainda informações de filhos que procuram os pais. Centenas de pessoas deixaram testemunhos através de um endereço de email criado especialmente para partilhar histórias e potenciar reencontros. “Este prémio vem dar visibilidade a um tema tabu na sociedade portuguesa, um tema que esteve arrumado numa gaveta durante 40, 50 anos”, explica Catarina Gomes. Os ex-combatentes deixaram filhos em África. Eles existem, são muitos e gostavam de conhecer os seus pais portugueses. Uma história que vai continuar a ser contada, promete.

No PÚBLICO, foi também publicado o trabalho que deu o Gazeta Revelação à jovem jornalista Catarina Fernandes Martins (hoje jornalista do Observador), com Homem que matou um homem e encontrou Saramago na prisão. Uma reportagem que narra a história singular de Simão Barata: condenado por homicídio involuntário, descobre na prisão – e na obra de José Saramago – a forma de combater a solidão e reencontrar-se como cidadão livre e solidário.

O Prémio Gazeta de Imprensa foi atribuído ao jornalista Paulo Pena (que integra agora a equipa do PÚBLICO), com os trabalhos Bancocracia e O lado oculto dos mercados publicados na revista VisãoTrabalhos rigorosos, de grande qualidade jornalística, que contribuem para uma maior informação da opinião pública portuguesa, escreve o Clube de Jornalistas no comunicado em que anuncia os vencedores. 

Na categoria de Televisão, a vencedora foi a jornalista Ana Leal, com o trabalho Verdade Inconveniente, transmitida pela TVI. Uma história reveladora dos negócios do ensino privado, um tema pouco comum no jornalismo televisivo, realça o Clube de Jornalistas em comunicado. Na categoria de Rádio, Maria Augusta Casaca venceu com Catarina é o meu nome, transmitido na TSF. Com sonoplastia de João Félix Pereira, a reportagem evoca Catarina Eufémia, a figura mítica da camponesa alentejana assassinada em Maio de 1954.

José Carlos Carvalho venceu na categoria de Foto-Reportagem pelo trabalho Triscaidecafobia, publicado no jornal i.

O Prémio Gazeta de Mérito foi este ano atribuído a Helena Marques, jornalista profissional durante cerca de quatro décadas, com uma carreira iniciada aos 22 anos no Diário de Notícias do Funchal e prosseguida em Lisboa, nomeadamente em A Capital, República, Luta e Diário de Notícias. “Pela sua elevada competência e espírito solidário”, escreve o Clube dos Jornalistas, Helena Marques granjeou o respeito e admiração dos seus pares nas diferentes funções que exerceu.

Foram apresentados a concurso mais de uma centena de trabalhos. O júri dos Prémios Gazeta foi constituído por Eugénio Alves (Clube de Jornalistas), Elizabete Caramelo (docente universitária), Eva Henningsen (Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal), Fernando Cascais (docente universitário), Fernanda Bizarro (freelancer), Fernando Correia (jornalista e docente universitário), Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema e televisão) e José Rebelo (docente universitário).

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