Não se nega algum prazer no reencontro com o circo de Scorsese - os goodfellas, as drogas e o sexo desenfreado, as 506 instâncias da palavra fuck - tanto mais que o realizador já parecia ter desarmado de vez essa tenda. Mas os acrobatas estão cansados, os leões escanzelados, os palhaços deprimidos, repetem os gestos de antanho (os travellings e outras proezas) com um automatismo desvitalizado, em auto-imitação, e é preciso vir outro circo (o de Thelma Schoonmaker & as suas tesouras milagrosas) para assegurar que a ilusão se sustenta. E metáforas à parte: há coisas interessantes em O Lobo de Wall Street, não o seu moralismo tímido mas coisas muito práticas, certas cenas, certos momentos, e um tom de euforia artificial na mise-en-scène de Scorsese que casa bem com os “paraísos artificiais” em que as personagens vivem - mas no filme há nenhuma indicação precisa, nenhuma sugestão de que Scorsese queira relacionar um artifício com o outro. Também preferimos isto aos “Hugos” e quejandos, mas quer dizer: vá-se rever Mean Streets, o Casino, e perceber que Scorsese deixou de ser capaz, esperemos que não definitivamente, daquela demência febril (no primeiro caso), daquela construção dramatúrgica couraçada (no segundo caso). O lobo mostra as garras, mas são postiças.
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