Jack Reacher

Dificilmente se poderá encontrar personagem mais à medida da persona cinematográfica de Tom Cruise como herói imaculado, invencível e incorruptível do que o ex-militar criado pelo escritor Lee Child. Ao contrário dos heróis vulneráveis e complexos do moderno cinema de acção (e é inevitável pensar em Jason Bourne, por exemplo), Jack Reacher tem uma única coisa na cabeça - deslindar o mistério que lhe caiu em braços e fazer justiça - e nada o vai demover dessa tarefa, nem mulheres (que não tem), nem amigos (que também não tem), nem ameaças. Jack Reacher ri-se na face do perigo - é essa simplicidade quase maniqueísta do herói “à antiga” que torna refrescante o segundo filme de Christopher McQuarrie (argumentista de Os Suspeitos do Costume). É um retorno assumido a uma era menos torturada e mais simples do filme de acção, à qual a imagem intocável de Cruise, actor cuja aura sempre se prestou mais a personagens de heróis do que de pessoas, empresta a dimensão exacta de entretenimento directo ao assunto. Policial clássico em regime “anti-Bourne” (e com a deliciosa mais-valia de ver Werner Herzog fazer uma perninha como vilão e Robert Duvall vir alardear a sua classe em três cenas), Jack Reacher é fita desenvolta e despachada, encenada sem rodriguinhos nem distracções, como se ainda fosse possível sonhar com Don Siegel nos nossos dias (não é, mas registe-se o esforço). O franchise já deve estar nos cálculos da Paramount.

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