"Tenho horror a armas", declarou Duarte Lima sobre o homicídio de Rosalina
Negando qualquer envolvimento na morte da cliente, que havia transferido, anos antes, mais de cinco milhões de euros para uma conta bancária que tinha na Suíça, alegadamente a título de honorários, o advogado declarou: "Tenho horror a armas".
"Para mim, que já estive duas vezes às portas da morte, com doenças oncológicas, o mandamento 'Não matarás' é sagrado", disse à juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa que o interrogou. A magistrada não seguiu, aparentemente, o guião inscrito na carta rogatória enviada pelas autoridades brasileiras: embora tenha abordado várias das questões que a justiça pretende ver esclarecidas, omitiu duas questões. "Por que é que o réu trouxe um telefone celular pré-pago de Portugal e não usou o seu, ou pagou uma linha brasileira? Por que se desfez desse celular um dia após a morte de Rosalina Ribeiro?", queriam saber as autoridades brasileiras.
Mas Duarte Lima não respondeu, porque a pergunta acabou por nem lhe ser feita. O mesmo sucede com os tapetes do carro que alugou para se deslocar nessa ida ao Brasil, em Dezembro de 2009. Diz a polícia brasileira que devolveu o veículo lavado, apesar de não ter essa obrigação, e sem os tapetes originais.
Questionada pelos jornalistas sobre o facto de ter omitido estas perguntas, a magistrada não se mostrou disponível para dar esclarecimentos. Fonte judicial referiu, no entanto, que a juíza recebeu uma segunda carta rogatória, já com menos perguntas do que a primeira.
À saída do tribunal, o advogado – que esteve até há pouco tempo em prisão domiciliária com pulseira electrónica no âmbito do processo do BPN, em que é acusado de branqueamento de capitais e abuso de confiança – declarou-se satisfeito por se ter podido finalmente defender da “acusação abjecta” que lhe foi feita pelas autoridades brasileiras.
Para o Ministério Público brasileiro, Duarte Lima atraiu a herdeira do milionário Tomé Feteira a um local ermo a algumas dezenas de quilómetros do Rio de Janeiro, a 7 de Dezembro de 2009, e matou-a a tiro, por não lhe querer devolver os mais de cinco milhões que lhe pagara, nem assinar um comprovativo da transferência desta soma.
O antigo dirigente do PSD diz que há factos relativos à sua ida ao Brasil que foram alterados propositadamente pelas autoridades para o incriminarem e alega ainda que não fazia sentido enveredar por esse caminho, uma vez que quando Rosalina Ribeiro recebesse a herança a que tinha direito pagar-lhe-ia mais dinheiro além dos cinco milhões. Além disso, alega, “nunca cometeria um crime tão hediondo, fosse qual fosse a quantia envolvida”.
O facto de ter sido, nas palavras de Duarte Lima, a herdeira de Tomé Feteira a determinar os mais de cinco milhões de pagamento antecipado e de o advogado admitir nunca ter elaborado a respectiva nota de honorários causou estranheza à juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. Quando a magistrada o inquiriu sobre se tinha declarado às finanças a verba depositada na Suíça, o antigo dirigente do PSD recusou-se a responder.
Na versão que conta dos factos, depois de uma breve reunião com a herdeira à hora de jantar, ainda no Rio de Janeiro, deu-lhe boleia até Maricá, cidade a 54 km do Rio onde esta se iria encontrar com a filha de um homem que queria, aparentemente, comprar-lhe a sua posição na herança. Essa mulher, a quem diz ter sido apresentado brevemente nessa noite, terá sido a última pessoa a ver Rosalina Ribeiro com vida. Chama-se Gisele, tem afirmado – mas esta tarde admitiu que o seu nome possa afinal ser outro. Para as autoridades brasileiras, que andaram muito tempo à procura de Giseles na zona de Maricá, essa mulher pura e simplesmente nunca existiu.
O Tribunal do Rio de Janeiro irá agora analisar as respostas de Duarte Lima para decidir se o submete ou não a julgamento.