Na Europa, Marisa Matias tenta fragilizar os “tubarões” que nadam pela direita
João Lavinha, o número dois da lista do Bloco às europeias, quer dar força à esquerda num Parlamento Europeu que "pende para a direita".
Até Sesimbra, a viagem da caravana bloquista serve para preparar o dia. A actual eurodeputada lê jornais, comenta notícias, pára nas páginas de economia. E demora-se no telemóvel. A manchete do PÚBLICO Dois em cada três votos dos grupos europeus do PS, PSD e CDS são iguais merece-lhe um comentário, depois de dar razão ao candidato da CDU, João Ferreira, que tem repetido essa mensagem na campanha eleitoral: “Em matéria orçamental, PS e PSD estiveram em sintonia absoluta, aí votam sempre da mesma maneira”. Depois, acrescentou: “Aliás, os relatores das sanções automáticas [para os limites de dívida e de défice], que podem ir até 2% do PIB, foram os eurodeputados portugueses Elisa Ferreira e Diogo Feio”.
Quando o carro pára em Sesimbra, Marisa demora-se uns minutos com os assessores. Antes, maquilha-se para “tapar olheiras”. Passam alguns minutos das 9h00 e o sol à beira-mar já não perdoa. O cheiro é forte. No Porto de Pesca Artesanal há sapatas a secar ao sol. Lá dentro, no frio, peixe-espada preto, sobretudo, cação e também tubarão. No sector das pescas, “quem tem levado a melhor são os tubarões”, dirá mais tarde como metáfora.
A coligação Aliança Portugal vinha a caminho de Sesimbra e Marisa Matias sabia disso: “Vai estar aqui o Paulo Rangel, eu sei. A direita, no Parlamento Europeu, disse que bateu o pé a Angela Merkel. Mas, na verdade, o que fez foi pisar a pesca, a pesca artesanal, a capacidade de decisão em termos das quotas a pescar. Estamos dependentes de um modelo que serve os países nórdicos, mas que não serve países como Portugal".
Antes, Marisa Matias faz perguntas. Sobre investimentos, distribuição do pescado, encomendas diárias. “Nós não podemos falar com eles enquanto estão a trabalhar, é isso?” A resposta é negativa e a candidata prossegue para as alegações finais.
"A Alemanha, que não tem quotas de pesca, manda mais do que um país como Portugal", lamenta. Com elogios à nossa costa e um paradoxo: “Nós temos a maior zona económica exclusiva e no entanto temos quotas de pesca muito inferiores a países que têm uma zona económica exclusiva também muito inferior".
De volta à capital, os panfletos com a inscrição “não há memória de uma causa assim” anunciam uma visita difícil à Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer. João Lavinha, o número dois da lista do BE, acompanha a eurodeputada. O antigo director do Instituto Nacional Ricardo Jorge quer contribuir nestas eleições para “dar força à esquerda numa Europa que pende para a direita”.
Na sede no Casal Ventoso, que inclui um centro de dia, Marisa Matias conhece muitas das pessoas pelo nome porque esteve ali várias vezes, quando preparou o relatório de estratégia europeia contra a doença. Os doentes, mais mulheres do que homens, fazem exercícios físicos e cognitivos. Pintam com guaches, jogam com peças de madeira coloridas, vêm televisão. Mas a movimentação de jornalistas e câmaras de televisão altera-lhes, manifestamente, a rotina.
A doença provoca uma deterioração progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas. São 153 mil doentes, em Portugal, para três delegações regionais e alguns núcleos de apoio, diz a candidata.
“Somos um dos poucos países da União Europeia que não tem Plano Nacional de Alzheimer. É urgente que haja. Uma das recomendações da Estratégia Europeia de Combate ao Alzheimer é que haja planos nacionais em todos os países”, afirmou.
Para o futuro, a cabeça de lista do Bloco deixa a esperança de que Portugal se empenhe em ser bom aluno no que toca ao Alzheimer: “O que se exige é que a estratégia europeia seja cumprida e que Portugal tente desta vez, a este respeito, ser bom aluno. Que não seja só bom aluno para aquilo que nos faz mal. Seja bom aluno para respeitar também os direitos e a dignidade".