Crescimento e transformação de um país na rota do tráfico

Desde então, quer se vejam as notícias sobre as grandes apreensões de droga feitas pela Polícia Judiciária, quer se olhem os níveis do consumo crescente de cocaína nas ilhas, o país e transformou-se perante essa nova realidade.

Cabo Verde transformou-se também se se olhar a frequência de julgamentos envolvendo figuras e episódios mediáticos – como Zany Filomeno, conhecida como a “baronesa da droga”, presa em 2007, e o julgamento Voo da Águia ou ainda o caso Lancha Voadora quando foram apreendidas 1,5 toneladas de cocaína pura, cinco viaturas de luxo, uma lancha rápida e grandes quantidades de dinheiro.

O país mudou também nas leis que agora definem como devem ser usados os recursos colhidos nessas operações e revertidos a favor do Estado. Segundo a nova legislação, são destinados ao reforço da capacidade policial e dos tribunais e aos programas de apoio e tratamento das vítimas da violência.

Cabo Verde transformou-se também, quer se contem o rol de casos policiais e as histórias de condenações e denúncias que se multiplicam, as notícias de homicídios e ajustes de contas, ou se note a exposição de redes que envolvem empresários na vasta diáspora cabo-verdiana desde França a Portugal, passando por Portugal, Estados Unidos, Itália, Alemanha.

Essa presença cabo-verdiana em vários países também facilitou a escolha de Cabo Verde como ponto preferencial de tráficos. Mas foi sobretudo a localização do país na “melhor rota do Atlântico” que o tornou um alvo, como dirá a ministra da Administração Interna de Cabo Verde Marisa Morais nesta entrevista ao PÚBLICO.

Os riscos, de mais de uma década, mantêm-se, apesar do forte investimento no combate aos tráficos. Mais de 90% do orçamento do ministério da Administração Interna está a ser usado para reforçar a qualidade e o número de efectivos da polícia. À ameaça da droga, juntou-se a das armas ligeiras que entram ilegalmente no país. Também em Cabo Verde paira o espectro dos extremismos que brotam mesmo ali ao lado, diz a ministra, em países como o Mali. Ou o tráfico de droga que aumentou muito em Estados frágeis como a Guiné-Bissau e que esteve na origem dos dois episódios que no ano passado afastaram Praia e Bissau.

O primeiro, em Abril, quando o almirante Bubo Na Tchuto, ligado ao poder em Bissau, foi detido numa operação secreta dos Estados Unidos, em águas internacionais, ao largo de Cabo Verde, e transitou depois pelo aeroporto do Sal, na passagem aérea que o levou aos Estados Unidos, onde aguarda julgamento por envolvimento no narcotráfico.

O segundo episódio, meses depois, foi a detenção em Bissau durante 18 dias, sem acusação formal, de dois agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Cabo Verde, que acompanhavam uma cidadã guineense ao seu país, depois de esta cumprir pena por tráfico de droga em Cabo Verde. O caso expôs a ruptura das relações entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde, que não reconhece – também no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – as autoridades que lideraram o golpe de Estado de Abril de 2012.

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