Violência nas eleições mata 18 pessoas no Bangladesh
Queimados vivos, espancados até à morte, atingidos por tiros da polícia, a votação deixou um rasto de mortos no Bangladesh.
A oposição apelou a um boicote e os seus apoiantes incendiaram mais de 200 assembleias de voto em protesto por, pela primeira vez desde 1991, não ser uma autoridade neutra e provisória a encarregar-se das eleições. O Governo alega que já não há necessidade desta comissão e realizou as eleições de qualquer modo.
Medo da violência e protesto levaram a uma baixa participação. O jornal britânico The Guardian contactou várias assembleias de voto na capital e concluiu que a participação teria andado pelos 10%.
Em Dhaka, muitas pessoas já não querem saber da votação, mas preocupam-se com a violência que tem marcado o dia-a-dia da capital no impasse entre os dois principais partidos, liderados por duas mulheres que têm alternado no poder nas últimas duas décadas.
“Eu, e muitos outros como eu, já não queremos saber das eleições”, disse Nabila, da capital, à emissora britânica BBC. “O que me preocupa agora é a segurança da minha vida”, continuou. Apesar da forte presença militar nas ruas, continuava a haver mortos – por tiros da polícia leal ao Governo, por explosões de cocktails Molotov atirados por opositores. “Tantas pessoas morreram, muitas queimadas vivas dentro de autocarros. Que tipo de pessoas somos?”, insurgia-se. “Cada vez que entro num autocarro tenho medo que seja incendiado”, confessa a estudante. “Nunca tive tanto medo na minha vida.”
Tudo isto por um impasse entre os partidários da primeira-ministra Sheikh Hasina e da líder do principal partido da oposição, Khaleda Zia, que diz estar sob prisão domiciliária desde Dezembro, o que as autoridades negam.
De qualquer modo, há muitas dúvidas sobre as eleições, e Estados Unidos e União Europeia nem sequer enviaram observadores.
“Por que falamos de eleições, se há poucas pessoas nas mesas de voto e os dois candidatos são do mesmo partido?”, perguntou a um repórter da agência francesa AFP o comerciante Miyamat Ullah.
“As eleições não vão resolver nada”, comentou Ataur Rahman, professor de ciência política na Universidade de Dhaka, à agência britânica Reuters. “Tudo vai continuar exactamente na mesma porque ambas as líderes vão continuar a evitar um diálogo com significado, e isso é a única coisa que pode fazer acabar a crise”.
“É preciso acabar com as mortes de civis inocentes”, diz a estudante Nabila. “É isso que pedimos a todos os partidos e políticos do Bangladesh. Eles não são donos das nossas vidas.”
Mahmoud, de Sylhet, no nordeste do país, disse à BBC que em cinco horas e meia apenas três pessoas votaram na sua assembleia. A sua família não vai votar - como protesto contra o Governo, mas sem apoiar a oposição. "A maior parte das pessoas não fazem ideia do que vai acontecer depois de hoje. Mas temos uma certeza: vai ficar pior."