Partido de Kirchner mantém maioria mas perde Buenos Aires

Sergio Massa, peronista dissidente e antigo chefe de gabinete da Presidente, foi o grande vencedor das eleições intercalares na Argentina e posiciona-se como candidato às eleições

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Sergio Massa venceu na província de Buenos Aires Agustin Marcarian/Reuters

Uma das consequências mais imediatas destas eleições – em que estiveram em jogo metade dos lugares na Câmara de Deputados e um terço do Senado – é que, apesar de continuar a controlar as duas câmaras, Kirchner não contará com os dois terços dos deputados e senadores necessários para uma eventual alteração da Constituição, sem a qual não pode candidatar-se a um terceiro mandato – uma hipótese muitas vezes falada, ainda que a Presidente insista que não pretende perpetuar-se no cargo.

Mas é de Massa que se fala sobretudo nesta segunda-feira, no rescaldo de eleições que eram vistas como um arranque para a corrida presidencial. O seu Frente Renovador (FR), que junta peronistas dissidentes da corrente kirchnerista, conseguiu 42,6% dos votos na província de Buenos Aires, onde votam mais de dois terços dos eleitores. A Frente para a Vitória (FpV), de Kirchner, não foi além dos 31%, ainda que tanto a Presidente (ausente da campanha por estar a convalescer de operação ao cérebro) como o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, tenham dado o seu apoio inequívoco à campanha liderada por Martín Insaurralde, um autarca de sucesso mas desconhecido do grande público.

Criado há poucos meses, o FR não apresentou listas próprias nas outras províncias, mas a vitória em Buenos Aires é suficiente para catapultar Massa para a frente da corrida às presidenciais de 2015, ainda que o antigo assessor de Kirchner possa não ser visto pelos eleitores como uma alternativa real ao ramo da família peronista que governa a Argentina desde 2003 quando Nestor Kirchner, marido da Presidente, foi eleito, em pleno colapso económico do país. Pela frente nas primárias, deverá ter Scioli, que não esconde o desejo de suceder à Presidente, ainda que a imprensa especule que terá de lutar com outros candidatos pelo favor de Kirchner.

As eleições de domingo foram também um barómetro da acção do Governo, que acusa na sondagem o desgaste do poder e o ressuscitar de velhos problemas económicos – há vários anos que a taxa oficial de inflação ultrapassa os 20% e as empresas queixam-se das políticas proteccionistas do executivo que, além de manter sob forte controlo o valor da moeda nacional e das importações, continua a taxar fortemente as exportações.

“O kirchnerismo vai dizer que ganhou, porque tem mais votos a nível nacional, mas o que conta é a província de Buenos Aires, o que faz com que esta seja uma vitória da oposição e não do Governo”, disse à AFP o politólogo Rosendo Fraga. Apesar de arrebatar a maioria dos votos em 19 províncias, o FpV perdeu as eleições nas cinco mais populosas.

Contudo, a oposição tem ainda um longo trilho pela frente antes de ambicionar a reconquista do poder. Muito fraccionada a nível nacional, a maioria da oposição a Kirchner alicerça a sua influência em bastiões regionais, como as eleições de domingo voltaram a provar: uma outra facção peronista venceu em Córdoba, a segunda província mais populosa; a União Cívica Radical (UCR) do ex-Presidente Raul Alfonsin (1983-89) ganhou em Mendoza; os socialistas lideram a contagem em Santa Fé; e na cidade de Buenos Aires, o quarto maior distrito do país, venceram os conservadores, liderados por Mauricio Macri pelo presidente da câmara e também candidato às eleições de 2015.

A nível nacional, a FpV obteve, segundo os últimos dados, 32,3% dos votos, o que lhe garantiu a eleição de 48 dos 127 lugares em disputa, a uma distância confortável das várias facções dissidentes do peronista (23,8% no total) e da UCR (23,7%).
 

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