Nogueira Leite demite-se da Caixa Geral de Depósitos
Saída estará relacionada com um mal-estar que se instalou nos últimos meses entre o economista e a gestão liderada por Faria de Oliveira.
A saída da CGD neste momento, apurou o PÚBLICO, não estará relacionada com nenhum facto concreto, mas com um mal-estar que se instalou nos últimos meses entre Nogueira Leite a gestão do banco público.
Na carta de demissão entregue a Faria de Oliveira, o vice-presidente terá apenas justificado a renúnica com o facto de ter atingido os objectivos que se tinha proposto alcançar na CGD.
A saída deveu-se ao culminar de desentendimentos que se vinham a acumular, nomeadamente, em relação a algumas decisões adoptadas pela actual gestão e que não contaram com o apoio deste administrador. Por outro lado, Nogueira Leite nunca escondeu as divergências com a política seguida, em algumas matérias, pelo Governo de Pedro Passos Coelho, de quem foi apoiante.
Para além de Nogueira Leite ter contestado publicamente através do Facebook a política de subida de impostos aplicados à classe média, o administrador demissionário da CGD contestou ainda algumas iniciativas do Ministério das Finanças envolvendo o banco público. Uma das questões que chegaram ao domínio público foi a contratação da Perella para assessorar o Estado na venda das acções públicas da EDP e da REN, decisão imposta pelas Finanças para evitar ter de recorrer ao concurso público.
Nuno Fernandes Thomaz, administrador da CGD, veio entretanto lamentar a demissão. Em declarações ao Jornal de Negócios, elogiou o “excelente profissional” que considera ser Nogueira Leite, uma “óptima cabeça” que “vai fazer muita falta” ao banco público.
Nogueira Leite, ex-conselheiro económico de Passos Coelho (e secretário de Estado do Tesouro e Finanças do último Governo de António Guterres), foi escolhido para assumir a vice-presidência da CGD por indicação do Governo. A escolha esteve envolta em polémica, uma vez que, segundo os estatutos da instituição e as regras da boa governação do banco, a eleição para a vice-presidência compete aos membros da administração e não ao accionista (Estado).
Em Dezembro, Nogueira Leite afirmou que o banco público funcionou, no passado, como “barriga de aluguer da política pública”. A vários níveis, disse: barriga de aluguer “da política governamental, da criação de campeões nacionais, centros de decisão nacional ou do que quer que fosse”.
O economista foi – também durante o mandato como vice-presidente do banco público – uma das vozes do descontentamento social-democrata em relação ao aumento de impostos anunciado pelo Governo para 2013.
Quando, em Setembro, Passos Coelho anunciou as alterações na taxa social única, de que desistiu depois, Nogueira Leite escreveu no Facebook, referindo-se ao aumento das contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social e à redução das contribuições das empresas: “Se em 2013 me obrigarem a trabalhar mais de sete meses só para o Estado, palavra de honra que me piro, uma vez que imagino que, quando chegar a altura de me reformar, já nada haverá para distribuir, [e] preciso de me acautelar.”