“Trocou-se” uma goleada por uma derrota que honrou
Em campo, duas equipas que pouco ou nada tinham em comum. De um lado, uma Espanha rotinada e habituada a estas andanças. Do outro, uma equipa portuguesa inexperiente e resultado de uma polémica interna. “Os seleccionados não representam o valor máximo do nosso futebol”, podia ler-se na primeira página do jornal “Os Sports”, a 15 de Dezembro.
Ao contrário dos espanhóis, que organizaram o primeiro campeonato entre equipas do país no início do século XX (1902), em Portugal não existia ainda qualquer competição nacional - só surgiria 13 anos depois -, pelo que a escolha dos seleccionados se revelou polémica. De nada serviu a iniciativa da Associação de Futebol de Lisboa, que tentou realizar uma partida entre os melhores jogadores de Lisboa e Porto para apurar o “onze” que defrontaria a Espanha. É que, de acordo com a Associação de Futebol do Porto, tudo não passaria, afinal, de uma estratégia que visava apenas financiar a deslocação a Madrid, pois a equipa já estaria escolhida e quase não incluía qualquer futebolista da cidade Invicta.
A maioria dos adeptos acreditava que Portugal sairia do campo do Atlético de Madrid goleado e humilhado. E, aos cinco minutos de jogo, um golo de Meana confirmaria as previsões dos mais pessimistas. Quatro minutos volvidos, Alcantara rematou sem hipóteses para o guardião português, dando corpo ao espectro da goleada. Mas Portugal conseguiu reequilibrar o jogo e a Espanha só voltaria a marcar a meio da segunda parte, novamente por Alcantara.
No entanto, o momento mais importante para a selecção lusa estaria reservado para o minuto 80. Fajardo, médio espanhol, meteu a mão à bola dentro da área, concedendo a Alberto Augusto a oportunidade de diminuir a desvantagem no marcador. O então jogador do Benfica não falhou na hora de converter o penálti e marcou o primeiro golo de sempre da selecção nacional.
À chegada a Lisboa, dezenas de adeptos esperavam a comitiva. “Os espanhóis triunfaram mas os portugueses honraram o futebol nacional”, escreveu “O Século”. A multidão que ergueu Alberto Augusto em ombros demonstrou-o.