OCDE diz que zona euro é o maior risco à economia mundial e pede acção urgente dos bancos centrais
No seu relatório Economic Outlook (Perspectivas Económicas), hoje divulgado, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) lança um alerta aos líderes internacionais para agirem o quanto antes e avisa que a zona euro é o maior risco à economia mundial.
A instituição reviu em baixa as suas projecções para a economia mundial e prevê agora que o PIB dos seus 34 países-membros cresça, em média, apenas 1,9% este ano e 1,6% em 2012. Em 2013, o crescimento já deverá ser um pouco mais forte – 2,3%. Mas as previsões para a zona euro são substancialmente piores.
Este ano, os 17 países da moeda única deverão crescer, em média, 1,6% e, em 2012, apenas 0,2%. Para 2013, a previsão de crescimento da OCDE é de 1,4%. Mas estas estimativas, avisa a OCDE, têm como pressupostos que as autoridades irão tomar medidas suficientes para “impedir defaults [incumprimentos] desordenados da dívida soberana, uma contracção forte no crédito, falências sistémicas dos bancos e o excessivo aperto orçamental”.
“Receamos que as autoridades não consigam ver a urgência de tomar uma acção decisiva para enfrentar os riscos reais e crescentes à economia mundial”, afirmou hoje o economista-chefe da OCDE, Pier Carlos Padoan. “A economia americana está a recuperar muito lentamente, a zona euro está a entrar numa recessão moderada e o Japão está a crescer mais rapidamente por causa da reconstrução, mas este estímulo é temporário e vai desvanecer-se”, explica o economista.
Risco de "ruptura" na zone euroMas, para a OCDE, o “maior risco” para a economia mundial é mesmo a zona euro. Se as preocupações sobre a sustentabilidade da dívida soberana não forem atenuadas, “o recente contágio a países que sempre foram vistos como tendo finanças públicas relativamente sólidas pode provocar uma ruptura económica”, avisa a instituição, salientando que as crescentes pressões sobre os bancos e as suas dificuldades de financiamento aumentam o risco de uma nova “crise do crédito”.
“As perspectivas apenas melhoram se for rapidamente tomada uma acção decisiva”, considera Pier Padoan, sugerindo um reforço da capacidade do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o mecanismo que forneceu o resgate da Irlanda e de Portugal e irá dar à Grécia um segundo pacote de ajuda. Além disso, defende a OCDE, é preciso uma maior utilização do balanço do Banco Central Europeu (BCE).
Isto poderá implicar uma nova redução da taxa de juro directora do BCE, que está actualmente em 1,25%, depois do corte feito no início deste mês, ou outro tipo de medidas por parte da autoridade monetária europeia, como a compra de dívida. Numa tentativa de travar de vez a crise da dívida soberana, cada vez mais economistas têm defendido a necessidade de o BCE se tornar um “credor de última instância”, assegurando sempre o financiamento aos países em necessidade, mas esta ideia tem enfrentado a feroz oposição da Alemanha.
A OCDE defende que os bancos centrais a nível mundial devem “fornecer ampla liquidez para acalmar as tensões nos mercados financeiros e preparar planos de contingência para serem implementados rapidamente se for necessário”.
EUA precisam de plano orçamental credívelAlém da zona euro, o grande risco à economia mundial é a falta de acção nos Estados Unidos para resolverem os seus problemas orçamentais.
O facto de o super-comité do Congresso americano não ter chegado a um consenso sobre um plano de consolidação orçamental irá fazer com que entrem automaticamente em vigor cortes abruptos da despesa pública. Para a OCDE, isto pode empurrar a maior economia mundial para a recessão, deixando o banco central americano (a Reserva Federal) sem grande margem de manobra para fazer o que quer que seja.
A OCDE realça, por isso, que só será possível melhorar as previsões de crescimento para a economia mundial se houver um programa orçamental de médio prazo credível nos EUA.
Segundo as previsões da instituição, o PIB americano deverá crescer 1,7% este ano e 2% no próximo. Em 2013, a maior economia mundial deverá estar já a crescer acima de 2% (2,5%).