Fundador do Ikea terá sido um nazi activo, revela nova biografia

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Ingvar Kamprad Wikimedia Commons

Nos últimos anos, a Suécia tem lidado com vários casos de personalidades com ligações ao nazismo. Há poucas semanas, a insistência dos meios de comunicação forçou a rainha Sílvia a iniciar uma investigação sobre o passado do pai. Desta vez, a atenção voltou-se novamente para o fundador do Ikea por causa da publicação de uma nova biografia, segundo a qual terá sido um membro activo de grupos com ideário nazi.

Durante a juventude, Ingvar Kamprad, de 88 anos, terá tido um envolvimento com o nazismo maior do que o admitido antes.

Elisabeth Asbrink, jornalista da televisão sueca, foi a autora da investigação deste caso, já em parte conhecido, e expõe sobretudo a ligação de Kamprad ao Partido Nacional-Socialista Alemão (NSDAP). No livro é revelada a sua participação activa nas actividades do partido, cuja principal função seria o recrutamento de novos membros.

A jornalista divulga ainda que o multimilionário manteve a sua relação com o partido e com Per Engdahl, líder de um movimento fascista sueco, mesmo depois do fim da Segunda Guerra Mundial e de serem conhecidas as atrocidades cometidas por Hitler e pelo seu regime. A obra conta que em 1950, Kamprad esteve presente no casamento de Engdahl e que lhe escreveu uma carta onde dizia estar orgulhoso por pertencer ao círculo nacionalista. Porém, o empresário terá dito que as suas relações com outros membros do partido tinham terminado dois anos antes desta data.

Ingvar Kamprad juntou-se ao Partido Sueco Nazi em 1943 quando tinha apenas 20 anos, o que fez com que no mesmo ano fosse organizado um arquivo sobre si pela polícia de segurança.

Em And in Wienerwald the Trees Remain, título da obra, Asbrink escreve que as cartas de Kamprad foram abertas em segredo pela polícia de segurança. O conteúdo, que incluía informações sobre o seu empenho em recrutar novos membros, foi anotado pelas autoridades, e foi escrita no arquivo a palavra “nazi”. “Eram abertas com vapor, copiadas, e fechadas outra vez”, escreveu a autora.

"Um funcionário público nazi"

Os serviços secretos terão também escrito que Kamprad “exercia uma espécie de posição de funcionário público” numa organização da juventude nazi que também lhe enviava cartas.


No âmbito destas revelações, Per Heggenes, um porta-voz do fundador do Ikea, disse esta quarta-feira à Associated Press que o empresário desconhecia até agora da existência do arquivo e recordou que, nos últimos anos, Kamprad pediu perdão pelo seu passado e descreveu este período como “o pior erro da sua vida”. “Na cabeça de Ingvar não há nenhum pensamento simpatizante para com o movimento nazi”, acrescentou.

Só em 1988 Kamprad admitiu, num livro biográfico, o seu passado ligado ao nazismo e pediu perdão pela sua “estupidez”. Também admitiu à imprensa sueca que frequentou reuniões de grupos nazis entre 1945-48. Quanto às razões do seu envolvimento, Ingvar Kamprad diz ter sido muito influenciado pela avó, oriunda da região de Boémia, na República Checa, e que lhe deu a conhecer revistas de propaganda do regime quando era ainda bastante novo.

“É um pouco estranho que Ingvar Kamprad não tenha, ele próprio, revelado esta informação. Ele disse que queria contar, e dizer que estava arrependido”, afirmou Asbrink ao programa da SVT Aktuellt, esta terça-feira.

Segundo informou Heggenes, Kamprad ainda não leu o livro baseado em dezenas de entrevistas, documentos oficiais e mais de 500 cartas. “Mas é óbvio que ele deseja pôr tudo isto para trás das costas. Não é divertido ser constantemente lembrado do que ele fez, uma e outra vez, sobretudo quando tem sido bastante sincero desde o princípio e pediu desculpas”.

Para o porta-voz, estas novas revelações não terão um impacto negativo na empresa. “Todas as pessoas que conhecem o Ikea sabem que é uma corporação multicultural e que pratica estratégias multiculturais”.

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