Organizações de apoio a doentes com sida temem perder apoios com crise
Nas vésperas de se assinalar o Dia Mundial da Sida (1 de Dezembro), a presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS) disse à Lusa estar preocupada com a situação dos doentes e familiares que recebem apoio. Actualmente há 22.500 pessoas em tratamento nos hospitais portugueses.
“Na LPCS temos cerca de 450 pessoas que são apoiadas por dois centros de atendimento e apoio integrado e que têm consultas gratuitas”, disse Eugénia Saraiva. O atendimento destas pessoas é financiado pela Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida, cujo contrato termina a 31 de Dezembro de 2011. “Depois disso eu não sei o que vai acontecer”, disse.
“São projectos de continuidade e é preciso uma alteração na lei que faça com que o financiamento destes projectos seja uma prioridade”, sustentou, receando ainda que alguns profissionais de saúde possam ficar desempregados.
Também a presidente da Associação Abraço se manifestou “muito preocupada” com os reflexos da crise no tratamento dos doentes.
“[Os doentes] podem ser afectados e nós estamos muito preocupados com isso e muito atentos. Eu acho que vai haver tentativas de alguns hospitais baixarem custos, mudarem as terapias que já não são as mais avançadas”, disse Margarida Martins.
E manifestou outra preocupação: “Alguns médicos estão a atrasar as terapias das pessoas e isso é assustador. Tenho medo que os hospitais, para baixarem custos, tomem essa atitude”.
“Ainda não temos dados, sabemos de uma situação pontual, mas estamos muito atentos e estamos a pedir aos doentes que nos informem” se isso acontecer, acrescentou.
Já o presidente do GAT – Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/Sida defendeu que se deve “aproveitar a crise para fazer reformas estruturais para a sustentabilidade do acesso universal ao tratamento”.
“O que nos parece é que não houve coragem para fazer verdadeiras reformas em torno da sustentabilidade, que poderiam passar” por colocar “tetos na despesa com medicamentos”, adiantou Luís Mendão.
O GAT tem alertado que “se não forem tomadas medidas, tendo em vista a situação económica do país, para controlar a infecção em Portugal, provavelmente, daqui a uns anos, teremos de tratar tantos doentes como a Alemanha, que tem oito vezes mais população que Portugal”.
Confrontado com estes receios, o coordenador nacional para a infecção do VIH/Sida afirmou que “não têm nenhuma fundamentação” e garantiu que “o que estava previsto ser financiado continua. Não se tocou em um cêntimo”.
“É normal que as organizações se preocupem com estas coisas, porque as situações de crise financeira podem obviamente reflectir-se de muitas maneiras. Mas nós estamos a falar de uma doença transmissível, de uma doença importante e não se pode baixar a atenção sobre ela”, frisou Henrique Barros.
E, anunciou, as verbas orçamentadas para o próximo ano para apoiar as organizações não-governamentais são as mesmas deste ano.
“É preciso manter a pressão, o cuidado e a vigilância a todos os níveis e saber se as medidas que se aplicam são aquelas que são necessárias e as mais eficazes”.
Mas “isto não quer dizer que não deva haver racionalização nos custos, que não deva haver a preocupação de fazer o melhor com o menos dinheiro possível e que não deva haver rentabilização dos recursos que dispomos”.
Por outro lado, acrescentou, “tem de haver a mesma preocupação das organizações não-governamentais de gastarem bem o dinheiro. A generalidade das organizações tem boas contas, mas acontece por vezes não haver essa preocupação e é fundamental que exista”.