Wikileaks: China aposta na reunificação das Coreias

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O regime norte-coreano não durará muito, acreditam sul-coreanos e americanos Darren Whiteside/Reuters

Os documentos divulgados mostram que o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Seul, Chun Yung-woo (hoje conselheiro do Presidente Lee Myung-bak), soube por dois responsáveis do Governo chinês que Pequim acredita que o futuro passará pela reunificação sob o controlo de Seul e que tem a ganhar com isso.

As extraordinárias oportunidades de negócio para as empresas chinesas, acrescentou, ajudaram a eliminar as inquietações de Pequim no seu convívio com a nova Coreia. Os interesses comerciais da China “centram-se hoje nos Estados Unidos, no Japão e na Coreia do Sul – não na Coreia do Norte”.

No cenário de instabilidade grave no país, a China diz-se pronta a receber até 300 mil norte-coreanos sem precisar de ajuda externa.

A conversa de Chun com Kathleen Stephens, embaixadora dos Estados Unidos em Seul, aconteceu em Fevereiro, meses depois do segundo teste nuclear e de ensaios de mísseis realizados por Pyongyang. Por causa desses testes, assegura Chun, Pequim disse ao aliado que a sua actividade estava “a ameaçar a segurança mundial”.

Chun explica a Kathleen Stephens que uma nova geração de líderes do Partido Comunista Chinês já não considera a Coreia do Norte um aliado útil ou confiável e não está disposta a “arriscar um novo conflito na península”, escreve o diário “The Guardian”. Esta nova visão começou a desenvolver-se com o primeiro teste nuclear da Coreia do Norte, em 2006.

Segundo Chun, Pequim considera que Pyongyang já entrou em colapso económico e descreve o comportamento do aliado como o de “uma criança mimada” que faz tudo “para chamar a atenção do ‘adulto’”, os Estados Unidos.

Um diplomata chinês de um país da Ásia Central citado nos documentos comentou com um colega norte-americano que em Pyongyang “são os militares que verdadeiramente governam” e que os objectivos do seu país na Coreia do Norte passam por “honrar os compromissos de combater a proliferação nuclear, manter a estabilidade da região e evitar que Kim Jong-il fique louco”.

Sem um Den Xiaoping

O embaixador de Pequim em Seul, Cheng Yonghua, lamenta por seu turno que a Coreia do Norte não tenha seguido as reformas económicas chineses e comentou a um norte-americano que era uma pena que Pyongyang não tenha um Den Xiaoping, o político que começou a conduzir a China na direcção da economia de mercado.

Os telegramas acabam em Fevereiro, antes do início de uma série de acções que culminaram há uma semana num dos piores incidentes desde o fim da guerra das Coreias, em 1953, quando um bombardeamento da ilha sul-coreana de Yeonpyeong matou quatro sul-coreanos, incluindo dois civis, e deixou 18 feridos. Seul acusa o Norte. Pelo meio, Pyongyang terá lançado um torpedo contra uma fragata sul-coreana, matando 46 marinheiros. Há três semanas revelou ter uma fábrica de enriquecimento de urânio.

O jornal “The New York Times” nota que nada disto foi antecipado nos telegramas trocados pela diplomacia norte-americana, onde muito se especula sobre o futuro colapso do país.

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