Coreia do Sul denuncia "crime desumano" do Norte
Quase uma semana depois de uma troca de tiros entre as duas Coreias no mar Amarelo, a calma na península está longe de ter sido restabelecida. O Presidente Lee foi vigoroso nos comentários que hoje fez, ao mesmo tempo em que decorriam os mais importantes exercícios navais conjuntos entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos.
Foi a primeira vez que Lee se dirigiu directamente ao país depois do confronto de terça-feira: “Não posso evitar expressar a minha cólera face à brutalidade do regime do Norte”, declarou em tom grave num discurso emitido pela televisão. “Vou garantir que o Norte vai pagar o preço de cada uma das suas provocações”, continuou. “Desta vez, a provocação do Norte ultrapassou as anteriores.”
O Governo de Lee foi acusado por várias frentes de ter respondido com demasiada brandura e pouca rapidez aos 80 obuses que na passada terça-feira foram cair na ilha de Yeonpyeong, perto da fronteira marítima contestada por Pyongyang. Uma sondagem do Instituto Asan de Estudos Políticos, citada pela AFP, refere que é também isso que pensa a esmagadora maioria da população: 80 por cento queriam mais força nos bombardeamentos e 33 por cento uma resposta militar vigorosa, mesmo que isso significasse uma guerra.
A revolta tem vindo a crescer na Coreia do Sul, onde meio milhar de antigos soldados e polícias queimaram bandeiras do país vizinho e a efígie do seu líder, Kim Jong-il.
Hoje Lee foi incisivo. “Atacar civis militarmente é um crime desumano estritamente proibido em tempo de guerra.... Agora chegou o momento de mostrar acção e não uma centena de palavras”, prosseguiu o Presidente.
Quatro pessoas morreram (dois militares e dois civis) e vários edifícios ficaram em chamas. Desconhecem-se os estragos provocados pela retaliação sul-coreana às forças do Norte, no mais vigoroso ataque entre os dois países desde o fim da guerra da Coreia (1950-53), que terminou sem acordo de paz – e o primeiro a atingir zonas residenciais civis.
O aumento da tensão levou a China, o principal aliado de Pyongyang, a pedir um regresso urgente à mesa das negociações. “É difícil esperar que a Coreia do Norte abandone a sua política belicista e o seu [programa] de armamento nuclear”, comentou Lee. Ao não dizer uma palavra sobre a proposta apresentada por Pequim, o Presidente estava no fundo a rejeitá-la, afirmou à AFP Lee Nae-young, professor de Ciência Política da Universidade da Coreia.
Lee visitou ainda as forças norte-americanas para lhes agradecer o seu apoio. As manobras militares dos dois aliados, iniciadas ontem, já estavam previstas ainda antes do incidente, mas ganharam novas proporções. O regime de Kim Jong-il garantiu que iria responder “sem piedade” a qualquer intrusão no seu espaço marítimo.
Aos exercícios do mar Amarelo juntou-se o porta-aviões norte-americano George Washington. A Defesa de Seul garante que estes quatro dias de manobras são as mais importantes alguma vez organizadas entre os dois aliados, refere a AFP.
Para o Norte, são “uma provocação e um crime”, lançou a agência oficial KCNA. “O mar Amarelo está à beira da guerra”, avisou. “É criminoso da parte da Coreia do Sul e dos EUA organizar exercícios militares de grande escala neste local crítico, que podem levar a situação a um estado explosivo.”
A Reuters recorda que os confrontos nas águas disputadas não são invulgares e que só nos últimos 11 anos dezenas de marinheiros foram mortos e vários navios de guerra afundados.