Marcolino Moco: “É preciso garantir que a independência chegue para todos”

Interrogado ao telefone, Moco - que também já foi secretário-geral do MPLA e secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - disse que “valeu a pena, apesar de tudo, mas foi doloroso”, a proclamação da independência de Angola, por Agostinho Neto, a 11 de Novembro de 1975.

Evocando o historiador britânico Basil Davidson, recentemente falecido, Marcolino Moco considerou que “o grande problema foi que não se viu o caminho a seguir”, uma vez que a independência se proclamou apressadamente, dadas as circunstâncias. Numa transição muito diferente das verificadas, por exemplo, com a África do Sul e com a Namíbia, que considerou paradigmáticas.

“Num período de apenas alguns meses, para não falar em dias, pais e filhos, irmãos, primos, tios e sobrinhos, colegas e amigos de trabalho ou de escola, transmutaram-se em inimigos de morte”, relatou, ao recordar que, a par da independência de Luanda, outra se proclamou entretanto, no Huambo. Esta pela UNITA e pela FNLA, as outras duas grandes formações políticas de então, em concorrência com o MPLA.

“Tudo isso se deveu fundamentalmente à situação do mundo que então se vivia a nível internacional, ancorado no fenómeno da Guerra Fria”, considerou o antigo primeiro-ministro, que lamenta não se ter conseguido nas últimas décadas, em Angola, o “casamento entre o tradicional e o moderno”.

Progressos e falta de consensos

A par de “assinaláveis progressos em diversos domínios”, o homem que - de 1996 a 2000 - foi o primeiro secretário executivo da CPLP nota que “um grupo minoritário tenta agora impor novamente práticas não consensuais, particularmente no plano do exercício do poder político, na estruturação dos mecanismos de distribuição da riqueza e nas formas de moralização da sociedade”.

Na opinião de Marcolino Moco, de 57 anos, existe hoje em dia em Angola “um poder quase absoluto”, detido por “um grupo que se autonomizou” depois de ter acabado o antigo sistema de partido único; e que está a “enriquecer sozinho”, enquanto “não se discute, não há diálogo”.

Em certos aspectos, este destacado e polémico militante do MPLA entende mesmo que a situação ainda poderá ser considerada mais grave do que a existente noutros tempos, nomeadamente no da administração colonial, quando havia “um ideário”. O que hoje em dia já não existirá, mas sim uma série de pessoas que “controlam o poder e colocam os filhos da administração de empresas públicas”, nomeadamente na área da comunicação social.

Assim, diz, “não se pode falar em democracia, mas sim em tentativas de regresso ao passado”. Com “jornalistas mortos sem se saber bem porque razão; enquanto outros são comprados”.

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