Morreu Mimi Reinhardt, a secretária de Schindler que dactilografou a célebre lista

Carmen “Mimi” Reinhardt era uma secretária no escritório de Oskar Schindler e foi ela que dactilografou a lista que salvou quase 1200 judeus da Alemanha nazi. Morreu na sexta-feira, em Herzliya, perto de Telavive, Israel, aos 107 anos.

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Por causa de A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg, Mimi ganhou o estatuto de celebridade que lhe valeu o ânimo para mais anos de vida DR

Quando Oskar Schindler, um alemão sudeta filiado no Partido Nazi e informador da Abwehr, assumiu o controlo de uma fábrica de utensílios de cozinha em Cracóvia, na Polónia, em 1939, onde pretendia aproveitar o trabalho escravo dos judeus aí aprisionados, estava longe de imaginar o papel que a História lhe reservara.

Na época, o lucro era a mira do empresário nascido na Morávia, mas o homem acabaria por gastar toda a sua fortuna em subornos para salvar as vidas dos seus funcionários. Para tal, defendeu que a fábrica precisava dos mais de mil trabalhadores judeus que empregava, poupando-os da deportação. Depois, quando a Alemanha começou a perder a guerra e a apressar o extermínio nos campos de concentração de Auschwitz e Gross-Rosen, Schindler conseguiu convencer os alemães a aceitarem a transferência da fábrica para Brünnlitz, campo nos arredores da cidade de Brněnec, actual República Checa, e a levar consigo os seus trabalhadores.

Schindler usou uma lista com os nomes de quase 1200 judeus que, em Outubro de 1944, viajaram para Brünnlitz. Entre eles estava Mimi Reinhardt​, uma judia, na época com 29 anos, que dactilografou o rol de nomes que viria a dar um livro (Schindler's Ark, 1982, do escritor australiano Thomas Keneally) e um filme (A Lista de Schindler, 1993, de Steven Spielberg, que venceu sete Óscares: melhores filme, realizador, argumento adaptado, fotografia, direcção de arte, montagem e banda sonora original). E foi esta última obra que salvou a vida de Mimi uma segunda vez, já que, explicou o seu filho, Sascha Weitmann​, que confirmou o óbito segundo a AP, depois disso, a mulher “tornou-se uma espécie de celebridade”, o que lhe deu energia para mais uns anos de vida.

Carmen “Mimi” Reinhardt (registada com o nome Carmen Koppel) nasceu em Viena, na Áustria, em 1915. Foi na capital austríaca que conheceu o marido, do qual ficou com o apelido Weitmann, que acabaria por acompanhar até Cracóvia, Polónia, antes do início da Segunda Guerra Mundial. Em 1939, nasceu o filho de ambos e a Polónia foi invadida. O casal conseguiu pôr o bebé a salvo na Hungria, mas ficou para trás, tendo sido detido pelos ocupantes nazis e retido no Gueto de Cracóvia.

O marido de Mimi acabou por morrer, alvejado quando tentava escapar do gueto. Já a mulher permaneceu ali até 1942, altura em que foi enviada para Plaszow, inicialmente idealizado como um campo de trabalhos forçados, mas que se transformaria num campo de concentração, com uma vertente de extermínio.

Tal como cerca de mil funcionários da fábrica de Schindler, Mimi acabaria por ser recrutada entre a população do campo, que chegou a albergar mais de 20 mil judeus em simultâneo. A mulher foi colocada nos serviços administrativos graças aos seus conhecimentos de estenografia. E foi ela que, dois anos depois, recebeu a ordem para dactilografar a lista manuscrita dos judeus que seriam transferidos para a fábrica de Schindler em Brünnlitz.

“Não sabia que era uma coisa tão importante “, confessou Mimi Reinhardt durante uma entrevista, em 2008, ao Yad Vashem, o Centro Mundial de Memória do Holocausto.

No entanto, o plano não correu como se esperava: o comboio que levava os judeus da lista de Plaszow para Brünnlitz foi divergido para Auschwitz. Aí, os trabalhadores de Schindler testemunharam aquilo que viriam a descrever como “um lugar saído directamente do Inferno de Dante”.

O grupo ficou em Auschwitz durante duas muito longas semanas, até Schindler conseguir resgatar os seus operários. Em Brünnlitz, Mimi assumiu um lugar no escritório do patrão, que descreveu como “encantador”, mas com o qual, esclareceu, tinha pouco contacto pessoal.

Depois do fim da guerra, a mulher conseguiu encontrar o filho na Hungria e mudou-se com ele para Tânger, em Marrocos, onde conheceu o segundo marido, Albert Reinhardt, com quem, em 1957, viajou para os Estados Unidos. De Albert, Mimi teve uma filha, que morreu em 2000, aos 49 anos.

O segundo marido morreu em 2002 e, cinco anos depois, Mimi decidiu trocar Nova Iorque por Herzliya, uma pequena cidade no distrito de Telavive, Israel, onde estava numa casa de repouso — foi aí que morreu na sexta-feira, 8 de Abril. A mudança, porém, explicou o filho, deu-lhe mais todos estes anos de vida, já que no país o facto de ser uma espécie de celebridade serviu como um balão de oxigénio.