Zelensky pede ajuda ao Congresso dos EUA: “Lembrem-se de Pearl Harbor, lembrem-se do 11 de Setembro”
Num discurso aos congressistas e senadores norte-americanos, Presidente da Ucrânia implorou por uma “zona de exclusão aérea” e por equipamento militar, e pediu a Biden para ser o “líder do mundo” e “da paz”.
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Depois das intervenções inéditas no Parlamento Europeu e nos Parlamentos do Reino Unido e do Canadá, Volodimir Zelensky, Presidente da Ucrânia, fez esta quarta-feira um discurso histórico no Congresso dos Estados Unidos, pedindo aos congressistas, senadores e membros da Administração Biden para ajudarem militarmente o país – impondo um “zona de exclusão aérea” e fornecendo aeronaves e sistemas antimísseis – e comparando a invasão russa com alguns dos ataques mais devastadores sofridos pelos norte-americanos.
“Lembrem-se de Pearl Harbor, na terrível manhã de 7 de Setembro de 1941, quando o vosso céu ficou negro por causa dos aviões que vos atacaram. Lembrem-se no 11 de Setembro, o terrível dia de 2001, quando o mal tentou transformar as cidades dos EUA em campos de batalha, quando pessoas inocentes foram atacadas pelo ar”, recordou, numa intervenção por videoconferência na sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado dos EUA.
“O nosso país enfrenta o mesmo, todos os dias, neste preciso momento”, atirou o Presidente ucraniano. “Não estamos a defender apenas a Ucrânia (…), estamos a lutar pelos valores da Europa e do mundo, e a sacrificar as nossas vidas em nome do futuro”.
Num discurso carregado de apelos ao orgulho e aos “valores comuns” partilhados entre ucranianos e norte-americanos, e de referências históricas da “grande nação” dos EUA, Zelensky citou o activista de direitos civis Martin Luther King Jr. para implorar, mais uma vez, pela imposição de uma “zona de exclusão aérea” na Ucrânia para travar a Força Aérea russa.
“Eu tenho um sonho [I have a dream, no original]. Estas palavras são bem conhecidas por cada um de vocês. Hoje, posso dizer: eu tenho uma necessidade [I have a need]. Preciso de proteger o nosso céu”, afirmou. “A Rússia transformou o céu ucraniano numa fonte de morte para milhares de pessoas”.
Para reforçar este apelo, Zelensky partilhou um vídeo com imagens fortes de edifícios destruídos, hospitais apinhados, adultos e crianças em pânico e corpos ensanguentados no chão de casas, nas ruas ou em valas comuns. “Isto é um assassínio. Fechem o céu por cima da Ucrânia”, lia-se nas frases colocadas sobre as imagens.
Consciente da posição da Administração norte-americana e da NATO sobre a imposição de uma “zona de exclusão área” – descartam essa opção, explicando que isso obrigaria ao abate de aeronaves militares russas, que, por sua vez, levaria à entrada da aliança militar no conflito e a uma previsível “III Guerra Mundial” e com potências nucleares –, o Presidente da Ucrânia apresentou, no entanto, uma “alternativa”.
“Sabem que tipo de sistemas de defesa precisamos – S-300 e outros sistemas [antimísseis] semelhantes. Sabem que para protegermos a nossa população, a nossa liberdade e a nossa terra, muito depende, no campo de batalha, da capacidade para usarmos meios aéreos, uma aviação poderosa [e] forte. Os aviões podem ajudar a Ucrânia e a ajudar a Europa”, pediu.
Joe Biden ratificou na terça-feira uma lei que atribui 13,6 mil milhões de dólares de fundos de emergência para o Governo ucraniano adquirir mais armamento e ajuda humanitária. Segundo a Casa Branca, o Presidente dos EUA vai anunciar esta quarta-feira a alocação de 800 milhões de dólares adicionais para “assistência securitária” à Ucrânia.
Na sua intervenção aos congressistas e senadores, Volodimir Zelensky quis deixar uma mensagem directa ao chefe de Estado norte-americano: “Como líder da minha população e da minha nação, dirijo-me ao Presidente Biden: é o líder da sua grande nação, quero que seja o líder do mundo. Ser o líder do mundo significa ser o líder da paz”.
Zelensky propôs ainda a criação de uma nova aliança internacional, a que chamou “U-24”, com capacidade para intervir e “acabar com qualquer conflito” em “24 horas”.
Na visão do líder ucraniano, a aliança seria formada por “uma união de países responsáveis com força e discernimento para parar imediatamente conflitos; fornecer, em 24 horas, toda a assistência necessária, incluindo armas, sanções, ajuda humanitária, assistência política, financeira” e “tudo o que for preciso para manter a paz” e “salvar vidas”.
Os representantes do Partido Democrata e do Partido Republicano presentes na sessão aplaudiram Zelensky de pé, naquela que foi uma rara demonstração de união entre os dois partidos principais norte-americanos, num Congresso altamente divido.