Coreia do Norte confirma intensificação de testes balísticos nas últimas semanas

Regime de Kim Jong-un está a testar os seus vizinhos e os EUA, aproveitando a crise ucraniana, os Jogos de Inverno na China e as eleições na Coreia do Sul.

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Kim Jong-un apareceu em público para uma visita a uma fábrica de armamento Reuters/KCNA

A Coreia do Norte confirmou esta sexta-feira a realização de uma série de testes de mísseis balísticos desde o início do ano. A intensificação das actividades bélicas do regime de Pyongyang coincide com momento delicado na geopolítica mundial e com a aproximação de eleições na Coreia do Sul.

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A Coreia do Norte confirmou esta sexta-feira a realização de uma série de testes de mísseis balísticos desde o início do ano. A intensificação das actividades bélicas do regime de Pyongyang coincide com momento delicado na geopolítica mundial e com a aproximação de eleições na Coreia do Sul.

O regime liderado por Kim Jong-un realizou seis testes de mísseis desde o início do ano, um número anormalmente elevado num tão curto período. Na terça-feira, o ensaio envolveu um sistema de mísseis cruzeiro de longo alcance actualizado e, dois dias depois, foi realizado um teste para confirmar o poder de uma ogiva convencional que pode ser incluída num míssil táctico terra-terra, revelou a agência oficial KCNA.

A imprensa estatal também dá conta de uma visita de Kim a uma fábrica de munições cuja localização não foi divulgada e onde o líder saudou o “progresso crescente na produção de grandes armas”. “A fábrica tem uma posição e um dever muito importantes para a modernização das forças armadas do país e para a concretização da estratégia de desenvolvimento da defesa nacional”, afirmou Kim.

Ao contrário do que aconteceu há cerca de duas semanas, Kim não acompanhou presencialmente os testes mais recentes.

Os testes foram criticados pelos vizinhos da Coreia do Norte e pelos EUA, que voltaram a impor novas sanções ao regime. O processo diplomático entre Washington e Pyongyang está paralisado há mais de um ano, o que tem deixado a liderança norte-coreana muito frustrada.

Na semana passada, o regime disse que está a ponderar retomar “todas as actividades suspensas temporariamente” relacionadas com o seu programa nuclear. As declarações foram entendidas como um aviso de que a Coreia do Norte poderá voltar a testar armas nucleares, algo que não acontece desde 2017.

A suspensão destes testes foi vista como uma das mais importantes medidas para reconstruir a confiança em torno do processo diplomático para desnuclearizar a Península Coreana e a sua retoma representaria uma enorme escalada da tensão na região.

Para já, o recurso a testes balísticos parece destinar-se a enviar mensagens para os vizinhos e para os EUA – um comportamento evidenciado pelo regime há vários anos.

Washington está desde o final do ano passado concentrada na crise de segurança na fronteira da Ucrânia, o que representa uma oportunidade para Pyongyang desestabilizar a região. “A actual série de testes destina-se a sublinhar o arsenal de mísseis crescentemente diverso do Norte e, essencialmente, encenar uma demonstração de força face aos Estados Unidos”, diz à Reuters o professor da Universidade de Estudos Norte Coreanos, Yang Moo-jin.

A conduta da Coreia do Norte também parece ter em consideração a proximidade do início dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, numa tentativa de chamar a atenção do regime chinês, aliado de Pyongyang, embora crítico da sua postura bélica.

O especialista também notou a aproximação de dois aniversários importantes no calendário ideológico norte-coreano. Em Fevereiro, assinalam-se 80 anos do nascimento de Kim Jong-il, pai do actual líder, e em Abril os 110 anos do nascimento de Kim Il-sung, fundador da dinastia.

Uma mudança importante nas dinâmicas regionais pode acontecer depois das eleições presidenciais sul-coreanas, marcadas para 9 de Março. Os dois principais candidatos têm mostrado privilegiar abordagens diferentes daquela que foi posta em prática pelo actual Presidente, Moon Jae-in, nas relações com o Norte. Moon fez da reaproximação diplomática e da redução das tensões na Península uma das grandes prioridades da sua governação, tendo participado num encontro histórico com Kim.

Porém, a ausência de progressos e de mudanças credíveis por parte do regime têm feito aumentar as críticas à estratégia de Moon, considerada por muitos sectores como demasiado suave.