Major que denunciou negócio de diamantes da rede de militares também é arguido

O militar que denunciou o segundo negócio de diamantes da rede de militares portugueses foi alvo de buscas na segunda-feira, em Faro. Mas já tinha prestado declarações à PJ Militar em Fevereiro de 2020, dois meses depois de ter entregado os diamantes ao comando da 6.ª Força Nacional Destacada.

Foto
Em causa está uma rede de militares e ex-militares que estiveram em missão na República Centro-Africana CEMGFA

O major da 6.ª Força Nacional Destacada (FND) na República Centro-Africana (RCA), que denunciou um negócio de oito diamantes, também é arguido, noticiou a SIC. Este major denunciou a situação já depois de saber que um intérprete tinha alertado para outra situação semelhante.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O major da 6.ª Força Nacional Destacada (FND) na República Centro-Africana (RCA), que denunciou um negócio de oito diamantes, também é arguido, noticiou a SIC. Este major denunciou a situação já depois de saber que um intérprete tinha alertado para outra situação semelhante.

Ao que o PÚBLICO apurou, este major foi alvo de buscas na última segunda-feira na sua residência no Entroncamento, altura em que foi constituído arguido. No entanto, este militar já tinha prestado declarações à Policia Judiciária Militar (PJM), enquanto denunciante, em Fevereiro de 2020, já depois de ter entregado os diamantes, em Dezembro de 2019, ao comandante da 6.ªFND, que relatou o caso ao Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA).

O EMGFA comunicou a situação à PJM que fez as averiguações iniciais, tendo ouvido os dois denunciantes: o intérprete e o major. Depois de levar a cabo as suas averiguações, a PJM informou o Ministério Público, que entregou a investigação à Polícia Judiciária civil. Foi esta polícia de investigação que ficou com a investigação ao caso a partir de Março de 2020.

Tal como o PÚBLICO noticiou, o major terá dito ao comandante da 6.ª FND que foi abordado por um capitão em Setembro de 2019, altura em que estava a ser feita a transição da 5.ª FND para a 6.ª, e que este lhe apresentou um cidadão local, funcionário de uma Organização Não-Governamental (ONG), que costumava colaborar com as forças da ONU. Nesse encontro, o capitão terá dito ao major que aquele cidadão o iria contactar mais tarde para lhe entregar uma caixa, supostamente com artesanato local, e que depois ele deveria enviar a encomenda no próximo voo de “sustentação” (são voos enviados de Portugal para apoio logístico à missão).

Bolsa com oito pedras

O major terá relatado que o funcionário da ONG lhe entregou não uma caixa, mas uma bolsa com oito pedras, que este assumiu serem diamantes, no dia 4 de Dezembro. E no dia 8, o capitão que já estava em Portugal desde finais de Setembro, ter-lhe-á enviado uma mensagem para saber se a encomenda já estava na sua posse e quando a poderia enviar.

Terá sido esta mesma versão que o major relatou à PJM quando foi ouvido em Fevereiro de 2020, tendo também mostrado as mensagens que trocou com o capitão através de WhatsApp.

Porém, recaem sobre si suspeitas de poder ter participado em mais negócios da alegada rede liderada por Paulo Nazaré e se denunciou a situação só por receio, uma vez que conhecia a denúncia do intérprete, que envolvia um negócio de 10 mil euros por oito diamantes.

Tal como o PÚBLICO noticiou, os oito diamantes entregues por si ao comandante valiam, segundo os peritos que fizeram a avaliação para a PJ, 290 euros no total.