Na banda desenhada de Vincent Vanoli, as personagens procuram um lugar

Um dos autores convidados do XVI Festival Internacional de BD de Beja, o autor francês Vincent Vanoli mostra na Casa da Cultura da cidade um conjunto de pranchas e desenhos representativo de uma obra construída ao longo de 30 anos. Em que o grotesco, o humor e o traço expressionista do desenho contam histórias do passado, da memória e do quotidiano. Com a persistência da banda desenhada.

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Não é a primeira vez que Vincent Vanoli (Meurthe-et-Moselle, 1966) apresenta o seu trabalho em Portugal. Em 2012, foi um dos autores convidados do Festival de Banda Desenhada da Amadora, mas na Casa da Cultura em Beja a oportunidade é inédita, solicita outro fôlego. Até ao próximo dia 19, os visitantes terão a oportunidade de percorrer uma obra iniciada nos finais dos anos 80 e que se dispersa por várias editoras e diversos livros. A exposição, integrada no XVI Festival Internacional de BD da cidade alentejana, inclui páginas retiradas de obras de ficção, como L'Oeil de la Nuit, Rocco et la Toison, Simirniakov ou La femme d'argile; de incursões autobiográficas, mais intimistas (Objets Trouvés), de baladas poéticas e movidas pela reflexão antropológica (Le promeneur du Morvan e D'une Ile à l'Autre) ou do trabalho mais recente, La Grimace, editado com o selo da L'Association, em que o autor associa as suas memórias autobiográficas às derivas imaginárias de uma infância vivida em Meurthe-et-Moselle, Leste de França. Com a família de origem italiana, os amigos — pelas ruas, a caminho da escola, à volta da casa. É um regresso, este livro, um regresso fantasmático e fantasiado à região da Lorena, quando a paisagem ainda era industrial e o trânsito fartava a cidade. Mas por esta altura, o leitor já se perguntará: quem é afinal Vincent Vanoli, esse dito autor de banda desenhada? Antes de mais, importa dizer que não é Hugo Pratt, Uderzo, Hergé ou Franquin. Vincent Vanoli faz parte uma geração de autores franceses surgida nos finais dos anos 80 que expandiu formal, estética e poeticamente a banda desenhada, nutrindo-a de outras referências e sensibilidades. Leitor na infância e na juventude de revistas e editoras incontornáveis (A Suivre e Futuropolis), bem como de autores consagrados (Tardi, Moebius, Hugo Pratt, tantos outros, incluindo os do universo infanto-juvenil), foi, à medida do tempo, embrenhando-se na literatura, no cinema, na pintura e no desenho não-narrativo. Não foi o único a participar desse movimento que se afastava, sem cortar o cordão umbilical, das alegrias populares e massificadas da BD.