Soalheiro, uma casa de inovação, da vinha à cave

Na Quinta de Soalheiro, há uma caixa de ideias, e mais ideias lá caíssem mais projectos aparentemente inusitados surgiriam. O engenho está presente no dia-a-dia de uma empresa que tem casa nova e uma cave inteirinha dedicada à inovação.

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Passamos a Porta de Lamas de Mouro, a caminho da Branda da Aveleira, na entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês, e aproximamo-nos da mais recente vinha da Quinta de Soalheiro. Continuamos em Melgaço, a uva é alvarinho, mas o terroir é diferente. A experiência a 1100 metros de altitude é o exemplo último de uma filosofia que liga território, tradição e inovação, e que hoje é evidente para quem visita a quinta e a adega em Alvaredo.

Em menos de dez anos, a empresa gerida pelos irmãos António Luís e Maria João Cerdeira e pela matriarca Maria Palmira sofreu uma impressionante transformação. A casa de família foi ampliada e foram construídas novas áreas, que permitiram melhorar a experiência de enoturismo e “arrumar a casa”. A começar pela cave de inovação, inaugurada em Maio pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

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Começar no sítio onde tudo começou

A visita começa no terreno soalheiro onde o pai de António Luís e Maria João plantou em 1974 a primeira vinha contínua de alvarinho em Melgaço, conduzida em ramada, ou latada, e de onde saem as uvas do Primeiras Vinhas. Entre esse início e 1982, quando surgiu a marca, os vinhos fizeram-se na antiga garagem da casa, onde em breve abrirá a sala de provas Origem.

Os visitantes passam depois na Horta das Infusões, onde há mais de uma dezena de ervas aromáticas e a família quis preservar a biodiversidade e recuperar tradições em desuso.

Na adega, a maioria dos vinhos está em inox, mas há também ovos de cimento e um tonel de carvalho francês. Já não são experiências. Essas, vamos encontrá-las na cave de inovação, descendo um piso no edifício construído em betão, parcialmente enterrado no solo e com coberturas verdes que favorecem a integração na paisagem e mantêm o interior fresco.

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Uma cave de inovação

O AG.HORA 2020, uma edição limitada que já vai no segundo ano, está em duas terracotas. É uma parceria com o georgiano de ascendência russa Gio Chezhia, explica a directora de enoturismo do Soalheiro, Carolina Osório. “Inovar sempre fez parte do ADN do Soalheiro, mas hoje temos um procedimento que diz como o fazemos. E todos podem dar ideias. Somos a única empresa de vinho em Portugal com certificação IDI [Investigação, Desenvolvimento e Inovação]. O AG.HORA saiu de um projecto de IDI”, conta a colombiana radicada no Minho.

Ao lado do AG.HORA, há 12 tinalhas, também em terracota. São outra parceria com Gio Chezhia, ainda sem nome. Algumas têm alvarinho, outras loureiro.

A casta loureiro chegou a solo ao portefólio do Soalheiro com o Germinar, um monovarietal de vinhas com mais de 30 anos em Valença, que estagia nos ovos de cimento e nos ovos de inox. Do outro lado do Monte de Faro, onde o sopro do Atlântico ainda chega, António Matos, um dos 150 membros do Clube de Produtores do Soalheiro, emprega pessoas portadoras de deficiência.

Outra experiência é o Alvorone, um 100% alvarinho, em parceria com os Vinhos Aparte, que vemos a estagiar em barricas de castanho português e que é feito à maneira do italiano amarone – depois da vindima, as uvas passaram por um processo de secagem em caixas fenestradas.

Colada à cave de inovação fica a cave dos espumantes. O primeiro espumante Soalheiro surgiu em 1995 e foi na verdade “a primeira inovação” do produtor. Os espumantes, incluindo dois novíssimos pét-nat, um de alvarinho e o outro de loureiro, “fazem-se” em contentores de malha metálica e, graças ao uso de leveduras encapsuladas – cujo peso faz que desçam facilmente para o gargalo –, os Cerdeira saltam o passo da remuage. E poupam espaço. Espaço que dá para ter mais uma sala de provas, a premium Pétala, e para ter toda a cadeia logística no mesmo edifício, incluindo o armazenamento.

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Provar vinho, comida e paisagem

A prova é feita, regra geral, na varanda do edifício, com vista para Espanha, para o rio Minho e para a paisagem de minifúndio. O Soalheiro tem actualmente 17 referências de vinho e espumante e uma aguardente, número que não inclui as tais edições limitadas, e há cinco provas de vinho diferentes, entre os 6 e os 65 euros.

Para uma experiência completa, pode-se ficar a dormir na Casa das Infusões (160 euros por noite) e/ou fazer uma refeição ligeira e “quilómetro zero” no Telheiro (25 euros por pessoa). À excepção do arroz, é tudo da terra. E tudo tem uma história e um nome associados. Não há menu fixo, mas há sempre fumeiro de porco bísaro da produção ecológica que Maria João e o marido Rui Lameira têm na Quinta de Folga, queijos de cabra da Prados de Melgaço e hortícolas biológicas.

Quem estiver de passagem pode simplesmente adquirir um kit que inclui um Soalheiro Clássico fresquinho, um saca-rolhas, dois copos, um queijinho e um voucher para a prova Origem (25 euros) e partir à descoberta do território. Nós fomos parar à tal vinha da Branda, dois hectares de solo xistoso onde no Inverno chega a nevar, plantados em 2019, numa parceria com Agostinho Alves, empresário e presidente da Junta de Freguesia de Gave.

A quinta “cresceu”, mas a sensação de estarmos em casa mantém-se, como nos tempos em que eram a D. Palmira ou os filhos a orientar as visitas.


QUINTA DE SOALHEIRO 
Alvaredo (Melgaço) 
Tel.: 251416769 
soalheiro.com 
Visitas: todos os dias, às 10h, 12h, 14h30 e 16h30
Provas desde 6 euros. Refeições, 25 euros por pessoa Casa das Infusões (T3) desde 160 euros por noite ​


Este artigo foi publicado no n.º 2 da revista Singular