Após as cheias, a Alemanha luta para limpar montanhas de lixo
As cheias na Alemanha foram as mais devastadoras das últimas décadas. Nas ruas das cidades ficaram “quantidades inimagináveis” de lixo, que as infra-estruturas locais não conseguem processar. Além do mau cheiro, estas montanhas de resíduos podem contribuir para a propagação de doenças.
As cheias mais devastadoras da Alemanha nos últimos 60 anos criaram montanhas de lixo, de frigoríficos estragados a carros destruídos, amontoados nas bermas das estradas e em lixeiras improvisadas. A sua eliminação pode levar semanas e os governantes locais já solicitaram ajuda.
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As cheias mais devastadoras da Alemanha nos últimos 60 anos criaram montanhas de lixo, de frigoríficos estragados a carros destruídos, amontoados nas bermas das estradas e em lixeiras improvisadas. A sua eliminação pode levar semanas e os governantes locais já solicitaram ajuda.
No meio do mau cheiro e do medo da propagação de doenças, o país que foi pioneiro na actual gestão de resíduos está a debater-se com as dezenas de milhares de toneladas de destroços espalhados pelas cidades e aldeias do estado da Renânia-Palatinado, após o dilúvio de 24 horas, o mais intenso de que há registo. As cheias tiraram pelo menos 180 vidas.
Uma semana depois, grande parte do lixo foi empilhada, de modo que as ruas sejam transitáveis, ou abandonado em lixeiras improvisadas. Para Hans-Peter Bleken, habitante da cidade de Bad Neuenahr-Ahrweiler, um centro de vinicultura em Renânia-Palatinado, que foi uma das zonas mais atingidas, a operação de limpeza liderada pelos bombeiros e pelo exército tem sido uma “ajuda brilhante”.
“O próximo grande problema vão ser as enormes pilhas de lixo doméstico”, disse à Reuters, contando que o mau cheiro provocado pela comida apodrecida está em todo o lado. “Derrotámos a covid-19, mas se agora apanharmos estas bactérias, os ratos e mais vírus, então esse será o nosso problema”.
A Alemanha foi pioneira na gestão moderna de resíduos na década de 70 do século passado, ao introduzir o princípio da separação do lixo para reciclagem, incineração ou para aterro sanitário. No entanto, a enorme quantidade de lixo ultrapassa aquilo que a indústria de gestão de resíduos pode aguentar. As empresas de construção e os agricultores estão a ajudar a descarregar os destroços, mas com as instalações de depósito cheias têm de ser criadas lixeiras temporárias.
“O maior desafio é a enorme quantidade de resíduos de grande dimensão”, disse Anna Ephan, porta-voz da Remondis, a maior empresa privada de gestão de resíduos na Alemanha. “São quantidades inconcebíveis”.
Exportação de lixo
No estado mais povoado da Alemanha, Renânia do Norte-Vestfália, o chefe do governo Armin Laschet declarou numa conferência de imprensa na quinta-feira: “Não será possível eliminar todos os resíduos a nível local. Precisamos de uma ajuda maior.”
Laschet é o candidato da União Democrata-Cristã, partido conservador alemão, para suceder à chanceler Angela Merkel nas eleições de Setembro. Uma sondagem realizada esta semana para a revista Spiegel revelou que 60% dos alemães consideram Laschet um mau gestor de crises.
Colónia, a maior cidade do estado com uma população de mais de um milhão de habitantes, lançou um apelo no Facebook para ajudar a eliminar “quantidades inimagináveis” de lixo. “Os bairros e as famílias afectadas precisam de apoio urgente para enfrentarem rapidamente esta missão, uma vez que a nossa infra-estrutura existente já está esgotada”, lê-se no comunicado, que inclui um número de linha directa para que quem quiser ajudar possa telefonar.
A maior parte do lixo terá de ser incinerado, mas com as instalações municipais e comerciais a funcionar a quase toda a velocidade antes da catástrofe das cheias, há pouco espaço disponível. “Isto vem juntar-se a todo o lixo que já processamos - e é inesperado”, disse Bernhard Schodrowski da BDE, associação da indústria de gestão de resíduos.
Há enormes desafios no armazenamento do lixo em segurança para minimizar o risco de doenças, disse Schodrowski, enquanto muitas empresas do sector estão também a lutar para recuperar o fornecimento de água potável e reparar os sistemas de esgotos. “Temos esperança, mas será uma questão de semanas até conseguirmos dominar este desafio”, disse Schodrowski.