Manuela Serra: “Passou muito tempo. Eu quis esquecer, esquecer, esquecer...”

Será possível consolá-la? Quatro décadas depois de ter descoberto que fora capaz de realizar um filme e quatro décadas depois de ter fechado as portas à emoção do cinema porque esse filme foi ignorado e ela se sentiu usada por “uma mentalidade misógina”, conseguirá agora acreditar que o vale era verde? Talvez não. Mas a estreia de O Movimento das Coisas, realizado entre 1978 e 1985, vai consolar-nos. Fábula construída em Lanheses, no Alto Minho, a sua poética não esconde uma gritante solidão nascida das sequelas do Portugal pós-revolucionário. Avancemos pelas brumas deste filme único.

Foto
Daniel Rocha

Atravessamos o rio em direcção à bruma, vila de Lanheses, município de Viana do Castelo, no Alto Minho. Como um nosso Brigadoon, uma terra das utopias revolucionárias perdidas: ouvem-se cantos, as vozes, e é como se essa terra do Norte não existisse no mapa e fosse já um daqueles vales do domínio da fábula. Estava a desaparecer um país em 1978 quando uma cineasta de 31 anos, Manuela Serra, passou o rio Lima.

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Atravessamos o rio em direcção à bruma, vila de Lanheses, município de Viana do Castelo, no Alto Minho. Como um nosso Brigadoon, uma terra das utopias revolucionárias perdidas: ouvem-se cantos, as vozes, e é como se essa terra do Norte não existisse no mapa e fosse já um daqueles vales do domínio da fábula. Estava a desaparecer um país em 1978 quando uma cineasta de 31 anos, Manuela Serra, passou o rio Lima.