O “elefante mais solitário” do mundo precisava de ajuda: “I got you, babe”, disse Cher
Cher salvou um elefante de uma vida de abusos e solidão. E o Smithsonian percebeu que a história dava um filme. O documentário estreia nos EUA no Dia da Terra, a 22 de Abril.
Salvar um elefante de uma vida de abusos pode parecer utopia, mas para a actriz e cantora norte-americana Cher isso tornou-se uma missão que levou muito a sério e que, a partir de Abril, pode ser acompanhada num documentário produzido pela Instituição Smithsonian.
O documentário Cher & the Loneliest Elephant vai estrear nos Estados Unidos no Dia da Terra, a 22 de Abril, e mostra Cher a liderar uma equipa de resgate para salvar um elefante de quatro toneladas no meio da pandemia. Foi exactamente nessa missão que a cantora passou o último Dia de Acção de Graças.
Porém, a estrela do filme — com chancela do Smithsonian Channel, mas que estreará primeiro no canal Paramount+ — desta vez não é a diva, que um mês depois celebrará 75 anos: os holofotes estão sobre Kaavan, um elefante que passou quase duas décadas acorrentado, no Paquistão, e que ficou célebre como o “elefante mais solitário do mundo” depois da morte do seu companheiro, em 2012. Tendo sido encontrado num grave estado de subnutrição, Kaaven, ao longo de 20 anos, foi espetado e picado, passou pela depressão, por psicoses e obesidade.
O elefante foi um presente do Sri Lanka ao Paquistão, em 1985, tendo estado no Zoológico de Islamabad até Novembro de 2020, quando Cher conseguiu que o animal fosse transferido para um santuário no Camboja, depois de uma luta de quatro anos. Foi em Setembro de 2016, que a história de Kaavan correu mundo, graças a uma reportagem cujas imagens se tornaram virais nas redes. E Cher acabou por lançar a campanha #SaveKavaan, no âmbito da qual co-fundou a associação Free the Wild e lançou a canção Walls (“Look at their lives / Can we save them somehow / Cause I just wanna see the walls crashing down” — “Olhem para as suas vidas / Podemos salvá-los de alguma forma / Porque eu só quero ver os muros a cair”).
“As pessoas não querem ver animais a sofrer”, escreveu Cher numa declaração, citada pela The Rolling Stone, na qual considerou que “esta é uma história que pode alegrar as suas vidas”.
Tudo por um final feliz. Porque para lá chegar o caminho não foi feito sem espinhos até ao último momento. É que quando já estava tudo tratado para levar o elefante do Paquistão para o Camboja, Kavaan iniciou o seu período de cio, durante o qual, ao mesmo tempo que se dá um grande aumento das hormonas reprodutivas, o animal mostra um comportamento muito agressivo. Foi nesse instante que Cher decidiu, mesmo no meio de uma pandemia, voar até Islamabad para ter a certeza de que a transferência do elefante seria feita em condições de segurança.
“Estava assustada”, confessou. “Mas, depois, pensei: (…) ‘Fizeste uma promessa, tens de ir’.” “Não havia qualquer outra forma de agir. Tenho um ditado no meu Twitter, ‘Fica de pé e sê considerado ou fica sentado e sê nada’. E eu não me ia sentar e ser nada.”
“O grupo de resgate, reunindo pessoas de origens e culturas muito diversas e liderado pela incomparável Cher, provou que o impossível pode acontecer durante os tempos mais difíceis”, disse James Blue, chefe do Smithsonian Channel, citado pela The Advocate, a mais antiga publicação norte-americana dedicada à comunidade LGBT que tem em Cher uma aliada.
Depois da estreia no Paramount+, o documentário será exibido no U.S. Smithsonian Channel, a 19 de Maio.
Com a história de Kaavan prestes a ser contada, mas já resolvida, Cher abraçou outra causa animal. Desta vez, noticiou o The Guardian, trata-se de uma gorila, que passou as últimas três décadas num centro comercial de Banguecoque.
Bua Noi passou quase toda a sua vida num recinto do jardim de Pata, um zoológico privado, localizado nos 6.º e 7.º andares de uns armazéns comerciais, que tem despertado as críticas dos defensores do bem-estar animal. Cher juntou-se aos que pediam a libertação da gorila e escreveu ao ministro do Ambiente da Tailândia para expressar a sua “profunda preocupação” com as condições de vida de Bua Noi.
A Free the Wild, co-fundada por Cher, ofereceu-se, entretanto, para financiar a transferência para um santuário na República do Congo onde o animal poderia encontrar “um lar de paz e dignidade”.