Escolas fechadas. E agora, o que fazer?

Aproveitemos esta pausa para reflectir, melhorar o ensino a distância, reduzir os programas e melhorar as actividades curriculares e extracurriculares. É essencial a formação de professores, a médio prazo, e igualmente a renovação da classe docente.

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Daniel Rocha

“Escolas fechadas. E agora, o que fazer?” Adiantamos já que nem tudo está perdido. Poderá ser mais uma oportunidade para reformular e melhorar vários aspectos no ensino: ensinar menos, para se aprender melhor e inovar nos métodos de ensino e de avaliação.

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“Escolas fechadas. E agora, o que fazer?” Adiantamos já que nem tudo está perdido. Poderá ser mais uma oportunidade para reformular e melhorar vários aspectos no ensino: ensinar menos, para se aprender melhor e inovar nos métodos de ensino e de avaliação.

Embora no plano teórico as escolas sejam locais seguros, é preciso não esquecer que são responsáveis pela circulação diária de milhões de pessoas, entre alunos, professores, pessoal não docente, pais e encarregados de educação, entre outros, facto que aumenta o risco de transmissão do vírus, (sobretudo “a variante inglesa”). Era, por isso, urgente o seu encerramento, já que, se é verdade que a educação é um direito inalienável de todas as crianças e jovens, a protecção da saúde e da vida é o direito capital. Sabemos que é mau, mas pior será perder a vida. Foi pena não termos agido preventivamente. Agora que as escolas estão fechadas, é tempo para reflectir sobre o que fazer, a curto, médio e longo prazo. 

A curto prazo é preciso começar a preparar o regresso ao ensino a distância. Sabemos que, com esta modalidade, as injustiças sociais que já existem e que, ano após ano, continuam por resolver, se poderão agravar e, por isso, é fundamental que todos os organismos responsáveis diagnostiquem e acompanhem todos os casos de alunos mais vulneráveis e os apoiem.

A seguir, é importante migrar para um ensino misto, ou seja, presencial e online, por forma a diluir a presença de alunos nas escolas. As aulas presenciais deveriam ser só para os mais novos e para disciplinas mais práticas. Várias universidades optaram por este modelo, desde o início do ano lectivo, e com sucesso.

A médio prazo, mas ainda para este ano, é preciso reformular os programas escolares, no sentido de ensinar menos para se aprender melhor.

Por isso, sugerimos:

  1. Reavaliar os programas, diminuindo a quantidade de conteúdos para se apostar na qualidade das aprendizagens;
  2. Repensar as práticas pedagógicas, abandonando as aulas expositivas e metodologias passivas, recorrendo a práticas mais activas e que requeiram mais a participação e acção dos alunos, ajudando-os a desenvolver a sua autonomia na construção do seu saber, com actividades e formas de trabalho diversificadas; educar para a autonomia, dando os objectivos e orientando a pesquisa.
  3. Repensar as actividades curriculares e extracurriculares propostas aos alunos, apostando em actividades mais práticas e mais úteis para a vida (por exemplo, incentivar a realização de outro tipo de trabalhos de casa, tais como: construir hortas biológicas, prestar serviços à comunidade, ajudar os pais, entre outros);
  4. Reconsiderar os recursos educativos utilizados, indo mais ao encontro de recursos que trazem maior motivação às novas gerações, com a utilização e com a efectiva integração nas aulas das novas tecnologias, ajudando os alunos a lidar, como terão de fazer na sua vida adulta, com as vantagens e desvantagens do seu uso;
  5. Repensar as práticas avaliativas, tornando efectivamente a avaliação formativa, mais reflexiva, mais contínua e mais ao serviço da aprendizagem, regulando e melhorando o processo de ensino e de aprendizagem, e não como sendo externa a esse processo; 
  6. Abandonar a hegemonia do teste como instrumento de avaliação único e rigoroso, quando sabemos que este avalia apenas um conjunto muito limitado das competências previstas no “perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória”, diversificando instrumentos para dar aos estudantes oportunidades verdadeiramente justas de demonstrarem as aprendizagens e as competências desenvolvidas;
  7. Reavaliar a utilidade e as vantagens dos exames nacionais do 9.º ano. Se estes podiam fazer algum sentido quando a escolaridade obrigatória se prolongava apenas até ao final do 3.º ciclo, agora que esta foi alargada até ao final do ensino secundário não trazem nenhum benefício. Pelo contrário, provocam grande pressão em professores e alunos, levando à degradação das práticas lectivas que se concentram na preparação dos alunos para o teste e não na aprendizagem de qualidade, como tem vindo a demonstrar a investigação na área;
  8. Analisar as vantagens de introduzir de forma permanente as alterações introduzidas no ano lectivo anterior nos exames nacionais do ensino secundário que conduziram a melhores resultados, mais próximos das avaliações internas.

No entanto, para que o ensino a distância tenha eficácia, é fundamental assegurar que todos os alunos têm acesso a equipamento tecnológico, com dados móveis (plafonds recarregáveis pelas escolas de acordo com as necessidades por ciclo de ensino). Mas também é fundamental apoiar as famílias que não podem ter os filhos em casa sozinhos.

Aproveitemos esta pausa para reflectir, melhorar o ensino a distância, reduzir os programas e melhorar as actividades curriculares e extracurriculares. É essencial a formação de professores, a médio prazo, e igualmente a renovação da classe docente.

As comunidades escolares devem analisar as boas práticas relacionadas com o ensino remoto de emergência decorrido durante o primeiro confinamento, fazendo uma (auto)reflexão e partilha das pedagogias digitais adoptadas, para estarem mais e melhor preparadas, mostrando-se capazes de recriar as suas estratégias pedagógicas e de se adaptar às realidades contextuais. Esta será uma forma de valorização do seu papel social e educativo durante a pandemia.