A dolorosa decisão de uma família que abandona Hong Kong

Há mais de um ano que Asa, 41 anos, e o marido, Willie, decidiram emigrar para a Escócia, deixando a cidade onde ambos cresceram e as três filhas tinham nascido. As conversas de jantar incómodas e as separações familiares dolorosas ecoam cada vez mais alto em Hong Kong, onde o Governo chinês determinou um caminho mais autoritário.

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Na minúscula cozinha de um apartamento de um arranha-céus em Hong Kong, o ar estava carregado dos aromas que chegavam da comida favorita de uma filha, preparada pela mãe. Era o festival de meio do Outono, uma celebração das colheitas que junta as famílias para uma refeição estimada e a última que partilhariam antes de a filha levar a própria família para uma terra longe de casa. “Vou sentir falta do frango com molho de soja”, disse Asa Lai, enquanto a mãe cozinhava receita atrás de receita da cozinha cantonesa.

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A mãe de Asa Lai, Ada, cozinha os pratos favoritos da filha para a refeição do festival de meio do Outono de 2020. Tyrone Slu/Reuters

“Vou ter saudades dos meus netos”, disse a mãe, Ada, depois de a filha ter deixado a cozinha. “Vou ter saudades da minha filha. Não quero vê-los ir embora. Sinto-me desamparada.” Chorou. “Não gosto de pensar nisso. Quando o faço, choro.”

Há mais de um ano que Asa, 41 anos, e o marido, Willie, decidiram emigrar para a Escócia, deixando a cidade onde ambos cresceram e as três filhas tinham nascido. Nesta noite no final de Setembro, tudo isso parecia finalmente demasiado real.

Ao jantar, Asa trouxe uma garrafa de King Robert Scotch, deu-a ao pai e disse: “Se gostar, terá que ir à Escócia para mais”. Com as mãos entrelaçadas, sentada à volta de uma mesa de jantar cheia de batatas fritas, estufados e um robalo cozido a vapor, Asa começou a rezar. “Como vamos deixar Hong Kong em breve, não sabemos para onde a estrada nos levará, mas acredito que Vós, Senhor, nos guiareis e cuidareis de nós. Estamos gratos. Amém.” Todos levantaram os copos.

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Manifestantes participam num protesto em Junho de 2019. Tyrone Slu/Reuters

Asa tentou quebrar o silêncio que se seguiu, perguntando “Não é tão deliciosa a galinha da avó? Não vão sentir saudades?”, mas a mãe desviou o olhar e apressadamente mudou o tema para o aumento dos custos dos alimentos.

As conversas de jantar incómodas e as separações familiares dolorosas ecoam cada vez mais alto em Hong Kong, onde o Governo chinês determinou um caminho mais autoritário com a imposição, em Junho, de uma lei de segurança nacional que viu uma repressão implacável pelos dissidentes.

A família Lais está entre centenas de milhares de habitantes de Hong Kong que se espera que emigrem à medida que Pequim aperta o controlo sobre o seu território mais agitado, uma ex-colónia britânica à qual prometeu amplas liberdades aquando do seu regresso ao domínio chinês, em 1997.

Ao contrário dos manifestantes e activistas que fugiram do país confrontados com acusações relacionadas com as frequentemente violentas manifestações anti-governamentais de 2019, os Lais são uma típica família de Hong Kong de classe média, politicamente moderada. Estão simplesmente a ir embora por se sentirem desiludidos com a cidade que amam, mas que já não reconhecem.

Alguns dias após a celebração familiar, Asa falou sobre o momento em que ela e o marido decidiram emigrar. Comoçou por lembrar-se de ter participado numa marcha com dois milhões de pessoas em Junho de 2019, um ponto de viragem na cidade que lançou a época de protestos em massa. Mas depois fez uma pausa. Não foi apenas um momento, disse.

“É um acumular de coisas, tudo isto que tem acontecido, parece estar a ficar cada vez pior. Portanto, é difícil escolher realmente um momento exacto. Diria que foi o momento em que a liberdade de expressão começou a encolher.”

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Decisões dolorosas

A decisão dolorosa dos Lais de desenraizar a sua família, que a Reuters documentou nos últimos cinco anos, proporciona um vislumbre das profundas feridas sociais que a emigração em massa pode infligir a Hong Kong, separando famílias e comunidades que se deslocam para outro lugar na esperança de encontrar as liberdades que perderam.

As autoridades governamentais em Hong Kong são inflexíveis e reiteram que os direitos e liberdades estão intactos. Dizem que a lei de segurança nacional é necessária para manter a segurança e a ordem públicas, na sequência dos protestos de 2019. As manifestações viram o arremesso de tijolos e cocktails Molotov contra a polícia, incêndios ateados em saídas de estações de comboios e a destruição de lojas e agências bancárias, que parecem ter ligações com figuras pró-Pequim. A polícia utilizou frequentemente canhões de gás lacrimogéneo e água e cerca de 10 mil pessoas foram presas.

Desde a imposição da lei de segurança nacional, tem havido uma ampla repressão à dissidência. Foram detidos os principais activistas da pró-democracia, alguns legisladores democráticos foram desqualificados, activistas fugiram para o exílio e slogans e canções de protesto foram declarados ilegais.

Um porta-voz do Governo de Hong Kong disse que “os protestos violentos e a anarquia nas ruas” de 2019 podem ser uma das motivações para as pessoas optarem por emigrar, juntamente com oportunidades de emprego, educação e negócios ou outras razões pessoais.

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“A implementação da lei de segurança nacional reverteu a situação caótica e a grave violência de 2019, restaurou a estabilidade e aumentou a confiança em Hong Kong, permitindo assim à cidade retomar o funcionamento normal e regressar ao caminho do desenvolvimento”, disse o porta-voz do Governo, acrescentando que as detenções foram “imparciais” e “baseadas em evidências”.

O Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau da China, subordinado ao Conselho de Estado, e o Gabinete de Ligação de Hong Kong, o principal corpo representativo de Pequim na cidade, não responderam aos pedidos de comentários.

Não existem estatísticas oficiais sobre quantos estão a sair desta cidade de 7,5 milhões de habitantes. Mas várias previsões mostram uma tendência crescente de pessoas a emigrar ou a procurar sair. A escala é comparável à do êxodo em massa de Hong Kong durante a década anterior à mudança de soberania, em 1997.

O Governo de Hong Kong estima que cerca de 503.800 pessoas tenham deixado o território entre 1987 e 1996. O fluxo de saída atingiu o pico na sequência da repressão sangrenta de Pequim nos protestos pró-democracia na Praça de Tiananmen, em 1989, com mais de 66.000 a saírem em 1992.

Estimativas iniciais mostram que uma nova vaga de emigração pode estar a nascer.

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O Reino Unido emitiu, em 2020, mais de 200.000 passaportes Nacionais Britânicos Ultramarinos (BNO, na sigla em inglês), de acordo com um funcionário do Governo britânico. Os passaportes são um documento da herança da era colonial que fornece o caminho para a cidadania.

A Grã-Bretanha estima que 5,4 milhões de habitantes de Hong Kong sejam elegíveis para BNO e que cerca de 322.000 se mudem para o país entre 2021 e 2025, de acordo com um estudo do Departamento de Estado. A partir de Janeiro de 2021, os titulares de BNO serão elegíveis para permanecer na Grã-Bretanha por cinco anos, altura em que podem solicitar residência se os requisitos forem cumpridos e, eventualmente, a cidadania.

Os outros destinos preferidos dos habitantes de Hong Kong são o Canadá e a Austrália, o que amenizou as restrições de vistos na sequência da lei de segurança, de acordo com agentes de imigração e empresas de realojamento. As autoridades de imigração do Canadá disseram que os pedidos de vistos de cidadãos de Hong Kong aumentaram mais de 10% em 2019, para 8640. Estão no bom caminho para ultrapassar esse total em quase 25% em 2020, de acordo com cálculos da Reuters com base em dados de Janeiro a Setembro de 2020.

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Mais de 2500 titulares de passaporte de Hong Kong na Austrália viram os seus vistos prolongados depois de, em Julho, Camberra ter anunciado novas regras que oferecem um caminho para a cidadania australiana para pessoas vindas de Hong Kong.

Se dezenas ou centenas de milhares de pessoas de classe média deixarem o território, disse Leo Shin, professor associado na Universidade de British Columbia, “obviamente uma grande quantidade de experiência profissional e conhecimento local será perdida”.

“A nível micro, apesar da disponibilidade dos meios de comunicação social e outras tecnologias, os laços familiares e sociais vão, inevitavelmente, sofrer”, disse Shin.

Quando Asa e Willie Lai marcharam com a sua família na manifestação enorme de Junho último, estavam cheios de esperança de que a cidade governada pela China estaria prestes a viver uma viragem histórica em direcção a uma maior democracia. Mas as autoridades insistiram, enquanto as manifestações se tornaram cada vez mais violentas. Para os Lai, o caos nas ruas e a reacção do Governo sentiu-se, em vez disso, como uma viragem na direcção oposta.

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“Eu não podia aceitar mais. Pensei: ‘Não quero morar mais aqui’”, disse Asa. “Dois milhões de pessoas e o Governo não nos respondeu. E, com o passar do tempo, as notícias tornam-se cada vez mais deprimentes. Para a juventude de Hong Kong, enquanto mãe, mesmo que os jovens lá fora não sejam meus filhos, não poder ver um caminho no seu futuro…”, disse, antes de se desfazer em lágrimas.

Willie, 46 anos, assumiu: “Se os jovens têm medo de falar, então este não é um lugar adequado. O melhor que posso fazer, agora, é ajudar os meus filhos, criá-los num ambiente mais adequado.”

Em Agosto de 2019, a decisão estava tomada. Tinham de sair de Hong Kong para dar às três filhas – Eunis, agora com 12 anos, Caris, 11, e Yanis, 1 – uma hipótese de terem as liberdades com que sentiam que tinham crescido.

Foi uma decisão “tremenda”, disse Asa. Ambos tinham empregos estáveis. Asa é enfermeira há 23 anos, mais recentemente numa organização de apoio ao cancro. Willie, que quando era pequeno costumava escalar o topo das colinas de Hong Kong apenas para ver os aviões a aterrar, tinha um trabalho lucrativo de importação e exportação de peças de aviões para uma empresa de engenharia aeronáutica.

Estavam a deixar para trás os seus pais, amigos, a sua comunidade eclesiástica. Nem eles nem as filhas são fluentes em inglês. Têm visto English with Lucy, um canal do YouTube que ensina inglês, desde a pronúncia aos sotaques – uma coisa boa para uma família que vai para Glasgow, uma cidade com um dos sotaques mais impenetráveis da Grã-Bretanha.

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Contactaram um agente de imigração e fizeram perguntas sobre os Estados Unidos, depois prepararam a papelada para um pedido de visto. Mas o casal arrastou o processo durante meses. As filhas estavam preocupadas com os furacões na América e a violência armada. Então, a imposição da lei de segurança de Pequim levou a Grã-Bretanha a estender os direitos de residência aos titulares de passaportes BNO. O casal renovou os seus.

Nunca tinham estado na Grã-Bretanha, mas reservaram um voo de ida para Glasgow, via Londres, para 17 de Dezembro. Conhecem algumas pessoas que já vivem lá e outra família que acabou de se mudar – pelo menos é um começo. Se não der certo, imaginam, podem procurar diferentes lugares na Grã-Bretanha.

Empacotar

Os Lai já alugaram uma casa de quatro quartos e três casas de banho num subúrbio a Sul de Glasgow, que vão partilhar durante cinco meses com outra família de Hong Kong emigrada na Escócia.

A casa é grande quando comparada com o apartamento de 55 metros quadrados onde viveram nos últimos 12 anos, no bairro de Diamond Hill. Por vezes, parecia que toda a vida na Terra acontecia naquela minúscula sala de estar.

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As duas filhas mais velhas costumavam fazer os trabalhos de casa à mesa de jantar, enquanto Asa cozinhava na cozinha ao ar livre e Willie se sentava no sofá atrás delas a ver televisão. Yanis, a mais nova, procurava constantemente a atenção das irmãs, enquanto Happy, o gato de 17 anos, procurava fugir aos seus olhares, escondendo-se numa prateleira e refugiando-se de toda a movimentação. 

A vista do 37.º andar para os blocos de apartamentos pontilhando as colinas exuberantes do outro lado da rua era espectacular, mas geralmente ficava ofuscada pelas pilhas de brinquedos e roupa pendurada. “A nossa vida tem sido muito abundante, tal como as nossas esperanças”, disse Asa sobre o apartamento caótico.

Venderam o apartamento por uma quantia que, esperam, os possa sustentar por alguns anos até se reerguerem, um privilégio que, estão conscientes, outras pessoas que procuram mudar-se podem não ter. “Podemos ter capacidade financeira”, disse Asa, “mas e quanto aos outros, a futura geração de Hong Kong? Temos muita sorte”.

A 7 de Novembro começaram a empacotar tudo. Algumas coisas seriam levadas com eles, outras iriam para o lixo, algumas acabariam em casa dos pais de Asa, com quem os Lai ficariam até ao voo para Glasgow. Enquanto Eunis e Caris empilhavam e fechavem os livros em grandes caixas de cartão, Yanis usava os livros mais pequenos para jogar às escondidas.

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Asa e Willie vasculharam uma grande pilha de tralha para decidirem o que fica e o que vai: álbuns de fotos, partituras de piano, uma Bíblia, livros de receitas chinesas, cartões de recém-nascidos, brochuras da lua-de-mel de dez dias nas Maurícias.

Depararam-se com as fotos do seu casamento. Willie ficou particularmente impressionado com uma delas. Ponderou por vários segundos e depois pendurou-a na parede para olhar novamente. Muito mais retraído do que a esposa, tímido em relação à família e aos amigos e não querendo ser muito pessoal, Willie costuma reagir com uma longa pausa quando as emoções ficam intensas.

A foto mostra o casal numa passadeira em Canton Road, na área turística de Tsim Sha Tsui, em Hong Kong, com luzes de néon a brilhar atrás deles. Willie, de fato preto e laço, levanta as pontas dos pés para parecer mais alto, fitando a câmara com um olhar perspicaz. Asa, de vestido de noiva, o cabelo arranjado pelo pai e a maquilhagem pelo irmão de Willie, segura um girassol na mão direita.

Isso faz lembrar a Willie como era Hong Kong, quando havia letreiros de néon em vez de luzes LED em todos os lugares, e onde os aviões desciam desconfortavelmente perto dos telhados da cidade antes de aterrar numa pequena faixa na península de Kowloon, em vez de no deserto da Ilha de Lantau, onde o novo e moderno aeroporto foi construído.

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“Quando se olha para a foto, sabe-se que foi tirada durante aquele período e tem significado. Tudo mudou”, disse Willie. Willie preferia Hong Kong como era antes, explicou noutra conversa. A transformação de Hong Kong num centro financeiro cintilante faz com que seja mais fácil ir embora. “Quando me perguntam do que mais sinto falta em Hong Kong, bem, isso já não existe”, disse.

Ele queria ir embora há algum tempo, mas a decisão seria sempre da Asa. E Asa leva sempre o seu tempo a pensar nas coisas.

Asa conheceu Willie em 2001 em Ocean Park, o parque temático mais antigo da cidade onde o irmão mais novo de Willie trabalhava. Willie estava a conversar com as três amigas que ela estava prestes a conhecer. “Tinha acabado de sair de uma relação, por isso não estava interessada no Willie”, confessou Asa. “Mas ele persistiu”.

Após cinco anos de namoro, Willie levou-a a passear num parque junto ao porto e pediu-a em casamento. Foram precisos “alguns dias” até Asa aceitar. Até hoje, o relacionamento deles é um tango constante entre os instintos analíticos de Asa e a abordagem romântica de Willie à vida.

Enquanto Willie está responsável por procurar opções de habitação e de escolsa, Asa terá a palavra final depois de examinar as finanças e a logística. “Eu encarrego-me de garantir que a nossa vida será funcional lá”, disse Asa.

Três dias depois de empacotarem as suas coisas, a empresa de mudanças veio esvaziar o apartamento. As filhas estavam na escola; Asa estava no trabalho. Willie observava num pensativo silêncio, interrompido apenas por algumas longas vogais proferidas com admiração pela habilidade dos trabalhadores.

Depois do jantar, Willie trouxe Asa de volta ao apartamento para dar outra vista de olhos antes de entregar as chaves. A vista da sala de estar estava finalmente desobstruída, mas Asa parecia olhar fixamente para ela sem expressão no rosto. “Já não há mais dúvidas para onde vamos”, disse Asa – para longe de Hong Kong.

Willie guiou-a, então, até à outra sala, onde Asa viu uma bolsa turquesa no canto, um presente do seu marido. “Ele fez a mesma coisa quando nos mudámos pela primeira vez”, disse Asa. “Geralmente não me compra presentes. É comovente.”

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O Natal daqui para a frente

Todos os anos, perto do Natal, os Lai e as famílias das amigas de infância de Asa, Adeline, Florence e Eve reúnem-se para um grande jantar.

Adeline, a anfitriã deste ano, manteve o tema festivo apesar de ter de adiantar o evento três semanas por causa da partida dos Lai. A árvore de Natal mantinha-se de pé num canto da sala de estar, enquanto um monitor LED passava um vídeo em loop das chamas da lareira e canções de Natal a tocar no fundo.

“Está a nevar em Glasgow. Parece tão bonito”, disse Asa, mostrando fotografias enviadas pelos amigos que lá vivem. Em Hong Kong, foi o primeiro fim-de-semana da estação seca, quando as temperaturas descem dos 20ºC à noite.

As sete crianças na sala, com chapéus de Pai Natal, brincavam com uma bola insuflável colorida, enquanto os adultos bebiam vinho de Borgonha, um Carabello-Baum Château de Pommar de 2008 que inicialmente queriam guardar para a celebração de final do curso de Eunis.

Quando Caris, a filha de 11 anos, passou por Asa, esta apontou para o relógio de couro rosa e o cachecol branco enrolado à volta do pescoço – presentes de despedida dos seus amigos da escola.

“Tenho estado tão ocupada com a mudança que não me apercebi que os meus filhos também precisam de fazer as suas próprias despedidas”, disse Asa. “Eles enviaram-me fotografias com os amigos na escola e quando as recebi comecei a chorar.”

Tal como durante a véspera de Natal, trocaramos presentes à meia-noite. Eunis recebeu um par de brincos; Caris recebeu uma pulseira. Adeline trouxe um bolo com a mensagem “À família Lai, nova mudança, vida melhor” escrita em chocolate e deu a Asa um cartão com fotografias de todos eles juntos, tiradas ao longo dos últimos sete anos. Asa desfez-se em lágrimas.

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“Na verdade, também temos algo para vocês”, disse, tirando três caixas pretas, cada uma contendo um amuleto translúcido gravado com Coríntios 13:7 em caracteres tradicionais chineses. “Ele suporta todas as coisas, acredita em todas em coisas, espera todas as coisas, tolera todas as coisas.”

O dia da partida

Nas últimas horas dos Lai em Hong Kong, o stress começou a afectar Willie e Asa. Uma discussão parecia inevitável sobre o que mais caberia nas quatro malas grandes, na mala de viagem, nos três sacos de mão.

“Passei a manhã toda a fazer as malas e agora queres reorganizar tudo?”, perguntou Willie a Asa. “Preciso de levar isto comigo”, disse Asa, agarrando alguns frascos de lentes de contacto. “Estes são do meu primo. São presentes!”

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A mãe de Asa, Ada, tinha estado em negação sobre a partida da filha. Ficou a ver todos no apartamento a andarem sem rumo, dizendo palavras que não queriam dizer, preocupando-se com coisas com que não precisavam. “Hoje, estou finalmente a aceitar a realidade”, disse Ada.

Ada cozinhou uma última refeição: uma panela de frango picante, a preferida de Caris, vegetais fritos e peixe cozido a vapor.

Os amigos de Asa chegaram, divididos em três carros, para os levar a todos para o aeroporto, onde mais de uma dúzia de outros amigos, antigos colegas e pessoas da igreja esperavam para uma despedida final.

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Mais presentes. Caberão em algum lugar.

Mesmo antes de atravessar os portões de segurança, Caris entregou uma carta à avó: “Cuidou de mim, cozinhou as minhas refeições preferidas, levou-me aos médicos quando eu estava doente. Agora é a minha vez de tomar conta de si. Quanto se sentir stressada, estarei sempre lá para conversar.”