O que pensam os homens com disfunção erétil?

Para muitos homens, não existe experiência mais ameaçadora e perturbadora do que não conseguir ter uma ereção de acordo com a sua vontade.

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No âmbito da sexualidade masculina, o estudo da resposta sexual de excitação tem desde sempre revelado um interesse significativo e persistente em conhecer os mecanismos que influenciam a capacidade erétil. Até porque, grosso modo, esta capacidade é considerada pré-requisito fundamental para uma vida sexual saudável e gratificante.

Compreende-se assim mais facilmente o vasto interesse da medicina em particular na apresentação de várias soluções terapêuticas para diminuir ou corrigir os impactos negativos resultantes da perda total ou parcial da capacidade erétil do pénis.

E de facto, para muitos homens, não existe experiência mais ameaçadora e perturbadora do que não conseguir ter uma ereção de acordo com a sua vontade. Por isso, a disfunção erétil está muitas vezes associada à perda da auto-estima, à depressão e à vivência de emoções negativas como o desespero. E esta experiência angustiante é também vivida ou partilhada pel@(s) parceir@(s), do homem com disfunção erétil.

A disfunção erétil pode ser mais facilmente percebida como a dificuldade em obter e/ou manter uma ereção do pénis até ao fim da atividade sexual. Esta incapacidade deve existir há pelo menos seis meses e deve ocorrer, pelo menos, em cerca de 75% dos encontros sexuais. E, naturalmente, deve causar um significativo grau de desconforto à pessoa que a vivência.

No que diz respeito à prevalência desta perturbação na população masculina, nem sempre é fácil encontrar valores consensuais, uma vez que estes dependerão sempre das características das populações analisadas. Sabe-se por exemplo que a disfunção erétil aparece associada a outras patologias como a diabetes, a obesidade, a depressão ou a hipertensão. Ela é também mais frequente em homens mais velhos. No âmbito restrito das disfunções sexuais, a disfunção erétil continua a aparecer em lugar de destaque, relativamente a outras disfunções, como o desejo sexual hipoativo (falta de desejo) e a ejaculação precoce. E continua a ser a queixa mais comum para os homens a partir dos 40 anos. Em Portugal, um estudo recente de abrangência nacional, encontrou valores próximos dos 10%. Um outro estudo anterior, realizado com homens entre os 40 e os 70 anos, revelou uma prevalência de 48%, em termos gerais. Ainda que, naturalmente, estes valores sejam mais baixos se for discriminada a gravidade da disfunção erétil (ligeira, moderada ou grave).

Os contributos mais recentes na compreensão e terapêutica da disfunção erétil têm dado um maior relevo por exemplo à dimensão psicológica, como o tipo de pensamentos e emoções vivenciadas pelos homens com esta dificuldade, não ficando limitados às intervenções de impacto meramente farmacológico. Esta mudança no foco da intervenção segue aliás as mais recentes orientações de organizações como a Organização Mundial de Saúde ou a Associação Mundial de Saúde Sexual (WAS) sobre a necessidade e importância de alargar a sexologia às questões de género, das relações de intimidade ou ao prazer sexual. Com esta nova perceção da abrangência da sexologia, pretende-se, assim, consolidar áreas de estudo e intervenção que permitam ir mais além das preocupações nas temáticas mais frequentes, como sejam as doenças sexualmente transmissíveis ou a saúde reprodutora.

A relevância dos aspetos biopsicossociais como factores de risco na disfunção erétil tem-se traduzido, em Portugal, num conjunto de estudos recentes que têm enfatizado a importância dos processos cognitivo-emocionais, dos traços de personalidade ou da qualidade das relações de intimidade.

Nesse sentido, um estudo realizado pelo Sexlab da Universidade do Porto, que englobou homens com disfunção erétil psicogénica (não devida a outros factores como perturbações orgânicas ou psicopatologia) e homens sem esta dificuldade permitiu constatar que efetivamente os homens com disfunção erétil apresentam um conjunto característico de pensamentos que os distingue dos homens sem esta perturbação. De facto, foi assim possível constatar que os homens com disfunção erétil apresentam regra geral mais pensamentos perturbadores, por exemplo, sobre o prazer sexual (“ela estará a gostar?”), assim como pensamentos de distração negativa (“e se eu não conseguir manter a ereção até ao fim?”), que os impede de se focarem na experiência sexual presente que estão a viver. De modo concomitante, comparativamente aos homens sem disfunção erétil, apresentam menos pensamentos de natureza estritamente sexual, que potenciem o erotismo e a excitação sexual, bem como pensamentos relacionados com o aspeto físico e o nível de atratividade sexual das suas parceiras.

Sabemos também que este padrão específico de pensamentos negativos está associado a um conjunto de emoções negativas, como o desespero ou a angústia.

Estes resultados transpostos para a intervenção psicoterapêutica vêm possibilitar a aplicação de um conjunto de estratégias de identificação e relativização de várias crenças e ideias disfuncionais que os homens com disfunção erétil mantêm em relação à sua sexualidade em geral e à qualidade do seu desempenho sexual em particular. Neste aspeto, faz sentido destacar as psicoterapias de natureza cognitivo-comportamental ou as intervenções baseadas no mindfulness, que permitem questionar as crenças erróneas e inflexíveis sobre a sexualidade masculina e, em simultâneo, promover pensamentos e emoções mais positivos e gratificantes durante a actividade sexual. Os diferentes estudos realizados sobre a eficácia terapêutica têm paulatinamente revelado que estas intervenções psicoterapêuticas são tão eficazes como os inibidores da fosfodiaterase ou a utilização exclusiva do sildenafil.

De uma forma simples, poderia dizer-se que não é a disfunção erétil por si que se constitui um problema, mas sim o que se pensa (e sente) sobre ela. A disfunção erétil, tal como a generalidade das perturbações de natureza psicológica, está muito condicionada pela forma como cada pessoa pensa sobre a sua perturbação. O tipo de pensamentos que a mantêm, o grau de invalidação com que essa perturbação interfere nos diferentes contextos da sua vida, os comportamentos de evitamento que lhe permitem manter essa ansiedade controlada e naturalmente a paleta de emoções com que todo esse quadro é vivido.