Antes de o ser, Ventozelo já o era
O Douro é tão difícil de explicar como o terroir. Sente-se nas pequenas coisas – no pote de ferro, nas tangerinas, nos balseiros e nos balões de betão. E nas grandes. Na terra e nas vinhas, nas pessoas e no respeito pela história de uma quinta com cinco séculos.
Ouvir o som do tambor e da concertina durante a vindima. Comer uvas, usando apenas a mão que segura o cacho. Andar com o barco à sirga na margem do Douro. Não é preciso imaginar que entramos nas fotografias de Domingos Alvão – penduradas nas paredes de uma quinta com mais de 500 anos de história. Basta parar, escutar e sentir Ventozelo. O chilrear dos pássaros, o vento entre as laranjeiras, os limoeiros e as tangerineiras de pele fina, o correr da água pelos riachos e nos bebedouros, a buzinadela do pão fresco a chegar à cantina e o mergulho dos peixes noctívagos no Douro. “Aqui conseguimos ver as estrelas e ouvir o silêncio, os sons da natureza e do trabalho na vinha”, celebra Jorge Dias, director-geral do grupo Gran Cruz, que repete várias vezes a palavra “respeitar” à medida que nos conduz – à sua velocidade, com ou sem redutoras – através dos íngremes 400 hectares (sensivelmente metade de vinha) de uma propriedade que agora começa um novo capítulo da sua existência. “Respeitar. É disso que se trata. Quando se olha para uma quinta com esta história, percebemos que passamos cá muito pouco tempo. Não somos donos de nada.”