O coronavírus está a criar cidades-fantasma, mas há quem aproveite o espaço livre
O coronavírus já matou mais de 900 pessoas e infectou mais de 40 mil na China. Quase todos os turistas desapareceram das ruas, mas ainda há quem se aventure a sair de casa.
Depois de verificar que a máscara de protecção está colocada e o desinfectante está na mão, a família Qiao dirige-se para o Parque Jingshan, um antigo santuário real ao lado da Cidade Proibida, na capital da China, Pequim.
A neve caiu pelo segundo dia, um evento raro na cidade de 21 milhões e meio que normalmente levaria centenas de milhares de pessoas a tirar fotografias e a brincar. Mas as estradas estão vazias e os parques estão tão quietos que o único barulho é o chilrear dos pássaros.
Não é apenas Pequim. Xangai, o centro financeiro da China, e outras cidades da nação mais populosa do mundo transformaram-se em cidades-fantasma depois de o governo estender o feriado e pedir aos residentes para não saírem de casa por causa do novo coronavírus (2019-nCoV).
“Sabemos que a situação do coronavírus é grave. Mas o epicentro é longe, portanto pensamos que devemos ficar bem aqui… É uma oportunidade dada por Deus poder desfrutar deste momento em família com neve e sem trabalho,” disse Qiao, que tem uma filha de 11 anos.
A epidemia matou 908 pessoas e infectou mais de 40 mil na China, segundo dados divulgados a 10 de Fevereiro. Mais de três quartos dos casos são na província central de Hubei, onde o surto começou — a mais de mil quilómetros de Pequim.
Apenas algumas pessoas são corajosas o suficiente para sair. Um segurança do Parque Jingshan disse que eram menos de um terço do número habitual de turistas, mesmo com a rara queda de neve.
Até mesmo num dos melhores locais para tirar fotos de Pequim coberta de neve, nos arredores da Cidade Proibida, quase não há uma multidão, enquanto os autocarros turísticos e os grupos de pessoas a falar diferentes dialectos não estão à vista.
“No ano passado, quando nevou, eu tirei algumas horas de folga do trabalho para vir aqui tirar uma fotografia e a multidão tinha várias camadas de profundidade”, disse um homem nos seus 30 com o apelido de Yang. “Mas este ano, eu não estou preocupado de todo em encontrar espaço para tirar uma foto. O vírus está a manter as pessoas dentro de casa.”
Seguranças ao longo da rua Wangfujing, uma popular rua comercial reservada a peões na baixa de Pequim, disseram que o caminho estava normalmente tão lotado durante o período de férias que era difícil mexer-se de um lado para o outro.
“Olhe agora, há mais seguranças e varredores de ruas do que turistas”, disse um dos seguranças. Negócios, incluindo lojas, bares e restaurantes, foram severamente afectados pela epidemia desde que o governo proibiu reuniões em massa e até refeições em grupo num esforço para conter a propagação do coronavírus.
“Num dia normal, teria de esperar do lado de fora por uma mesa”, disse uma empregada de mesa de um restaurante com mais de 50 mesas. Só cinco estavam ocupadas na hora de almoço mais concorrida.
Apenas uma mão cheia dos mais de 100 restaurantes ao longo da famosa rua da comida de Pequim, Guijie, estavam abertos, e as restantes lojas estão a ponderar quanto mais tempo conseguirão aguentar.