Robert de Niro: “Não quero que Trump morra. Quero que ele vá para a prisão”

O actor falou à imprensa na primeira apresentação europeia de O Irlandês, de Martin Scorsese-

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Não houve nada que mais motivasse Robert De Niro no seu encontro com a imprensa europeia em Londres, onde O Irlandês, de Martin Scorsese, tem a sua primeira exibição fora dos Estados Unidos, no London Film Festival, do que Donald Trump. Nem o envelhecimento como tema do filme; nem um mais do que provável fecho de cúpula de uma colaboração com Scorsese, porque o próprio actor, que interpreta Frank “The Irishman” Sheeran (1920-2003), um sindicalista com ligações ao crime organizado, admite que na sua idade, 76 anos, dificilmente o género “filme de gangsters continuará a ser um território possível... Não, nada disso: é Donald Trump, e o tema da “gangsterização da política americana”, que acorda o actor.

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Não houve nada que mais motivasse Robert De Niro no seu encontro com a imprensa europeia em Londres, onde O Irlandês, de Martin Scorsese, tem a sua primeira exibição fora dos Estados Unidos, no London Film Festival, do que Donald Trump. Nem o envelhecimento como tema do filme; nem um mais do que provável fecho de cúpula de uma colaboração com Scorsese, porque o próprio actor, que interpreta Frank “The Irishman” Sheeran (1920-2003), um sindicalista com ligações ao crime organizado, admite que na sua idade, 76 anos, dificilmente o género “filme de gangsters continuará a ser um território possível... Não, nada disso: é Donald Trump, e o tema da “gangsterização da política americana”, que acorda o actor.

“A corrupção nos sindicatos americanos foi limpa, embora não saiba até que ponto. Mas agora temos um problema mais imediato, um Presidente gangster que pensa que pode fazer o que quer. A questão é que se ele se safa, todos ficaremos com um problema. O objectivo das pessoas à volta dele, que o defendem, esses republicanos, é chocante, e temos que fazer algo. Eles pensam que somos uma elite de snobs, estão ressentidos com as pessoas [aponta para os jornalistas que foram ao seu encontro num hotel londrino] que escrevem que o que vemos é gangsterismo óbvio. Não gostam disso, por isso dizem: ‘Vão-se foder, vamos dar-vos uma lição’. Eles têm de saber que não se podem safar ameaçando pessoas que têm bom senso e que vêem o que se está a passar neste mundo, e neste país. Não vão conseguir. É lamentável que os republicanos se portem tão mal.”

Sobre o processo de impeachment ao Presidente dos Estados Unidos, concluiu assim o seu encontro com os jornalistas: “Não consigo esperar mais por o ver na cadeia. Não quero que ele morra. Quero que ele vá para a prisão”.

O Irlandês encerra amanhã o London Film Festival. As confissões que Frank Sheeran fez ao escritor Charles Brandt, nomeadamente que fora ele que assassinara o líder sindical Jimmy Hoffa, desaparecido em 1975 (corpo nunca encontrado, caso nunca resolvido), foram transformadas em livro: I Heard You Paint Houses: Frank “The Irishman Sheeran and the Closing of the Case on Jimmy Hoffa (2004). Foi De Niro quem, há mais de uma década, passou esse livro a Scorsese— tal como fora o actor que arrancou Scorsese do poço da depressão, da doença e consumo de drogas com o projecto O Toiro Enraivecido (1980).

É uma história que atravessa várias décadas, com o principal da acção a passar-se nos anos 70. Mas para além da história de Frank Sheeran é também uma “viagem” do próprio Scorsese, acompanhado com os “seus” actores, pelo seu cinema, pelo cinema que estava em Mean Streets, Goodfellas, Casino..., e é enorme a sua melancolia  a hora final, que curiosamente nos reenvia bastante para o Era uma vez na América (1984), de Sergio Leone, afasta irreversivelmente O Irlandês do género “filme de gangsters" e da matriz histérica, obsessiva e eufórica de Goodfellas que poderia ser uma expectativa dos espectadores.

Desde o momento em que o realizador pegou no projecto até à produção, entre várias sessões de leitura do argumento com o cast (De Niro, Harvey Keitel, Joe Pesci, que se retirara e foi convencido a regressar ao cinema, Al Pacino, na sua primeira participação num filme de Scorsese...) para motivar investidores, foi decidido que as personagens em várias décadas não seriam interpretadas por actores diferentes mas sempre pelos mesmos actores. Que se poderiam ser “envelhecidos” através da clássica maquilhagem, teriam de ser “rejuvenescidos” digitalmente. Foi a questão tecnológica e orçamental que desmotivou a Paramount e levou à entrada em cena da Netlix. E por causa disso, o novo filme de Scorsese não vai chegar aos cinemas em Portugal. Só vai estar disponível no serviço de streaming a partir de 27 de Novembro, em simultâneo com o resto do mundo. Em causa está o braço-de-ferro em torno da janela de exibição exclusiva que os cinemas sempre praticaram e que o serviço de streaming não quer dar: não houve acordo sobre esse período de exclusividade nos cinemas antes da estreia em streaming. Os distribuidores portugueses não aceitaram uma janela de exibição exclusiva “nula ou diminuta, semelhante à de Roma”, o filme Netflix de Alfonso Cuáron que se estreou em Portugal no final de 2018 apenas um dia antes de aparecer no menu Netflix. Já nos Estados Unidos, e depois de duras negociações, o filme deverá estar nas salas 26 dias antes de chegar à Netflix, estreando-se dia 1 de Novembro. Garante assim elegibilidade para nomeações para os Óscares.

O PÚBLICO viajou a convite da Netflix