O país não é o Twitter nem o Facebook, mas ficou mais perto de o ser
Três novos partidos no limiar da representação parlamentar e um quarto que cresce no hemiciclo são a expressão de eleitorados que se desenvolvem organicamente nas redes sociais, à margem das forças políticas clássicas.
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Ao que a campanha dos cinco maiores partidos da anterior legislatura não trouxe de novo às redes sociais, estas responderam com novas expressões no quadro parlamentar. Na noite de domingo consumou-se o crescimento de quatro fatias do eleitorado não enquadradas nos partidos clássicos do sistema português, cuja expansão se fez assente no Facebook e, em grau menor, no Twitter e no Instagram, e que encontram representação no PAN, Chega, Livre e Iniciativa Liberal (IL).
O Twitter, que em Portugal continua a ser uma rede social de nicho, um cantinho com códigos e dinâmicas incompreensíveis para o frequentador ocasional, com um proporção exagerada de jornalistas e news junkies, de políticos e cidadãos politizados, foi o local onde se detectou e expressou mais precocemente a evolução de duas tendências consumadas na noite eleitoral de domingo: o nascimento de um movimento político assumidamente liberal fora dos dois principais partidos da direita portuguesa — a IL de Carlos Guimarães Pinto — e de um movimento progressista, europeísta e verde, simultaneamente concorrente do PS, do Bloco e do PCP e, ao mesmo tempo, veemente defensor da continuidade de uma “geringonça” — o Livre de Rui Tavares e Joacine Katar Moreira.
Em ambos os casos, movimentos apoiados por eleitorados eminentemente urbanos e com habilitações académicas acima da média, espelho também daquilo que é a população adulta do Twitter português. E ambos encabeçados por líderes que, ao longo da campanha e antes desta, foram debatendo abertamente as suas agendas com os seus seguidores e críticos naquela rede social, em contraste com a participação parca e por vezes enigmática de Rui Rio e dos seus emojis de gatinhos, ou da presença mediada e impessoal de António Costa.
Se o resultado das últimas eleições europeias tinham sublinhado que o Twitter não era o país, deixando Livre e IL aquém de um único mandato, as legislativas de domingo deram uma primeira expressão política a eleitorados que deixam de ser negligenciáveis. No caso da IL, com uma nota adicional para a forma hábil como também sabe explorar o Facebook e o Instagram, onde tem um número de seguidores comparável ao do Partido Socialista, e como nas três redes soube capitalizar as sucessivas polémicas geradas em torno dos seus cartazes nas ruas.
No Facebook, rede social com maior projecção em Portugal, encontram-se as raízes do crescimento exponencial do PAN de André Silva. É o segundo maior partido naquela rede. Só o PSD tem ali um número maior de seguidores, mas é o partido animalista que não só tem aproveitado melhor os recursos da rede como tem representado um eleitorado que ali é numeroso: sensível à causa ambientalista e profundamente descrente dos partidos tradicionais.
Por fim, a potencial conquista de um mandato pelo Chega e da sua agenda de protesto anti-sistema de inspiração bolsonarista é, por um lado, o triunfo do discurso dominante das caixas de comentários, mas também o resultado da actividade de uma constelação de páginas de Facebook de conteúdo sensacionalista que ao longo dos últimos meses replicaram a mensagem de André Ventura.
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O Twitter, que em Portugal continua a ser uma rede social de nicho, um cantinho com códigos e dinâmicas incompreensíveis para o frequentador ocasional, com um proporção exagerada de jornalistas e news junkies, de políticos e cidadãos politizados, foi o local onde se detectou e expressou mais precocemente a evolução de duas tendências consumadas na noite eleitoral de domingo: o nascimento de um movimento político assumidamente liberal fora dos dois principais partidos da direita portuguesa — a IL de Carlos Guimarães Pinto — e de um movimento progressista, europeísta e verde, simultaneamente concorrente do PS, do Bloco e do PCP e, ao mesmo tempo, veemente defensor da continuidade de uma “geringonça” — o Livre de Rui Tavares e Joacine Katar Moreira.
Em ambos os casos, movimentos apoiados por eleitorados eminentemente urbanos e com habilitações académicas acima da média, espelho também daquilo que é a população adulta do Twitter português. E ambos encabeçados por líderes que, ao longo da campanha e antes desta, foram debatendo abertamente as suas agendas com os seus seguidores e críticos naquela rede social, em contraste com a participação parca e por vezes enigmática de Rui Rio e dos seus emojis de gatinhos, ou da presença mediada e impessoal de António Costa.
Se o resultado das últimas eleições europeias tinham sublinhado que o Twitter não era o país, deixando Livre e IL aquém de um único mandato, as legislativas de domingo deram uma primeira expressão política a eleitorados que deixam de ser negligenciáveis. No caso da IL, com uma nota adicional para a forma hábil como também sabe explorar o Facebook e o Instagram, onde tem um número de seguidores comparável ao do Partido Socialista, e como nas três redes soube capitalizar as sucessivas polémicas geradas em torno dos seus cartazes nas ruas.
No Facebook, rede social com maior projecção em Portugal, encontram-se as raízes do crescimento exponencial do PAN de André Silva. É o segundo maior partido naquela rede. Só o PSD tem ali um número maior de seguidores, mas é o partido animalista que não só tem aproveitado melhor os recursos da rede como tem representado um eleitorado que ali é numeroso: sensível à causa ambientalista e profundamente descrente dos partidos tradicionais.
Por fim, a potencial conquista de um mandato pelo Chega e da sua agenda de protesto anti-sistema de inspiração bolsonarista é, por um lado, o triunfo do discurso dominante das caixas de comentários, mas também o resultado da actividade de uma constelação de páginas de Facebook de conteúdo sensacionalista que ao longo dos últimos meses replicaram a mensagem de André Ventura.