São Pedro da Afurada a sair da casca

É pitoresca. É conotada com a sua imagem. Com as redes e o peixe, com os pescadores e as varinas. Com as casinhas de bonecas e os fogareiros à porta. Mas a Afurada, um filão para o turismo, está a romper a casca com o bico.

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São 8h30. E Armando Coutinho, como um farol, não tira os olhos da foz do rio Douro de onde irão surgir as proas das embarcações que passaram a noite no mar. “Andei sete anos na pesca do bacalhau que acabou no 25 de Abril. Passava meio ano no mar”, conta Armando, 72 anos, chapéu e pinta de Humphrey Bogart sentado no topo de uma montanha de redes e entre passas morosas num cigarro. “Um barco levava 70 pescadores, dez ou 12 moços e três ou quatro homens nas máquinas. Mais os oficiais. Quase 100 homens! Havia dias em que apanhávamos três ou quatro quintais. Um quintal de bacalhau valia 60 escudos. Era exploração a mais. Escravidão. Mas se não fossemos para o mar, íamos para a guerra. Naquele tempo era assim. Quem ia para o bacalhau, livrava à tropa. Passava a tropa no bacalhau.”