A série Chernobyl causou um boom turístico na central nuclear
Desde que a série estreou, o número de turistas não pára de aumentar na zona do maior acidente nuclear de sempre.
O sucesso da minissérie norte-americana Chernobyl, que chegou aos ecrãs em Maio, tem levado a um aumento do número de turistas na zona da central nuclear onde há 33 anos ocorreu o desastre que assustou o mundo. Os turistas chegam desejosos de verem por si mesmos a central e a cidade-fantasma abandonada.
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O sucesso da minissérie norte-americana Chernobyl, que chegou aos ecrãs em Maio, tem levado a um aumento do número de turistas na zona da central nuclear onde há 33 anos ocorreu o desastre que assustou o mundo. Os turistas chegam desejosos de verem por si mesmos a central e a cidade-fantasma abandonada.
Segundo reporta a Reuters, as agências que organizam viagens da capital da Ucrânia, Kiev, a Tchernobil, indicam um aumento entre 30 a 40% na procura, com muita gente a evocar os cenários da série produzida pela HBO e que em Portugal pode ser vista no serviço de streaming da HBO Portugal. Os passeios guiados, em inglês, custam cerca de 90 euros por pessoa.
O acidente, na então Ucrânia soviética, foi desencadeado por um falhado teste de segurança no reactor 4 da central nuclear. Seguiram-se nuvens de resíduos radioactivos que se propagaram por boa parte da Europa. A série da HBO acompanha o período posterior à explosão, a grande operação de limpeza e a investigação que se seguiu.
A área em redor da central mantém a sensação de um cenário desolado pós-apocalíptico, onde deambulam cães vadios e raposas e a vegetação cresce ocupando os edifícios abandonados e sem janelas, repletos de entulho.
Em Pripyat, a cidade-fantasma que outrora foi a casa de 50 mil pessoas que, na sua maioria, trabalhavam na central, um parque de diversões alberga um carrossel e uma pista de carrinhos de choque enferrujados, além de uma roda-gigante que nunca chegou a funcionar.
Sergiy Ivanchuk, gerente da agência SoloEast, disse à Reuters que a empresa já sentiu um aumento do número de turistas em 30% em Maio, em comparação com o mesmo mês no ano passado. As reservas para Junho, Julho e Agosto aumentaram cerca de 40% desde que a HBO começou a emitir a série, referiu. Valores similares são referidos por Yaroslav Yemelianenko, gerente da Chernobyl Tour.
Os turistas fazem visitas de um dia, onde podem ver os monumentos às vítimas e as aldeias abandonadas. Pelo meio, almoçam no único restaurante na cidade. São levados a ver o reactor número 4, que desde 2017 está coberto por uma grande cúpula de metal que atinge 105m de altura e cobre o núcleo central da explosão. O dia termina com um passeio por Pripyat.
“Muita gente faz perguntas sobre a série, sobre todos os acontecimentos. As pessoas estão a ficar cada vez mais curiosas”, diz a guia Viktoria Brozhko, que assegura que a área é segura para os visitantes. “Durante toda a visita à zona de exclusão de Chernobyl, recebem-se cerca de dois microsievert [o sievert é a unidade de medida de radiação usada para avaliação do impacto no ser humano], o que é igual à quantidade de radiação a que uma pessoa se expõe se ficar em casa durante 24h”, defende.
Quando Craig Mazin, o criador da minissérie Chernobyl, veio visitar o local antes de escrever o argumento, comentou a experiência: “Não sou um homem religioso, mas isto foi o mais religioso que alguma vez senti”. “Andar por onde eles andaram pareceu-me tão estranho, e também estar sob o mesmo céu faz-nos sentir um pouco mais próximos, de certo modo, de quem eles eram”, disse num podcast da HBO.
“Não se pode vir a Kiev e deixar passar a oportunidade de ver este local único”, opina Gareth Burrows, uma enfermeira de 39 anos do sul da Inglaterra. “Só vimos a série porque já tínhamos planeado vir, mas acho que o turismo vai aumentar por causa dela. Definitivamente, vai aumentar o interesse”.
Thieme Bosman, um estudante de 18 anos da Holanda, aponta um lado negativo do aumento do turismo. "Já há muitos turistas aqui e isso acaba um pouco com a experiência de estar numa cidade completamente abandonada. Por isso acho que se vierem mais e mais turistas que isso vai arruinar por completo a experiência”, concluiu.