Aqui é um bom lugar, um diário gráfico de Ana Pessoa e Joana Estrela
Livro, que valeu a Ana Pessoa o Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2018, é editado pela Planeta Tangerina e é inspirado na adolescência, “a fase da vida em que tudo é possível”. As ilustrações são de Joana Estrela
A adolescência voltou a ser a “mina” de inspiração para a autora portuguesa Ana Pessoa escrever Aqui é um bom lugar, um diário gráfico feito com a ilustradora Joana Estrela, a editar pela Planeta Tangerina.
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A adolescência voltou a ser a “mina” de inspiração para a autora portuguesa Ana Pessoa escrever Aqui é um bom lugar, um diário gráfico feito com a ilustradora Joana Estrela, a editar pela Planeta Tangerina.
“A adolescência é a fase da vida em que tudo é possível. Ainda não existimos completamente, estamos muito focados na nossa história e nas nossas emoções. Somos instáveis, imprevisíveis e, de certa forma, indomáveis. Tudo é novo e confuso. Isto, para quem escreve, é uma mina!”, exclamou Ana Pessoa em entrevista à Lusa.
Antes deste livro, com o qual foi distinguida com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2018, Ana Pessoa publicou outras obras de e sobre a adolescência, nomeadamente O caderno vermelho da rapariga karateca, Supergigante e Mary John.
Aqui é um bom lugar, que pode ser interpretado como um livro diarístico, com uma grande marca da oralidade e todo ele desenhado, com várias técnicas de Joana Estrela, é protagonizado por uma rapariga, Teresa Azevedo, na transição dos 17 para os 18 anos.
“A minha ideia foi reunir um conjunto de textos espontâneos e curtos, pequenos trovões de criatividade e confusão. A Teresa regista frases que ouve na rua, que ouve em casa, que encontra online. E lança também perguntas sobre tudo isto. Perguntas que podíamos ser nós a fazer. Perguntas que nos vão inquietando ao longo da vida: de onde vem a imaginação? De que são feitos os sonhos? Para que serve uma nuvem? O que é um pensamento? Quis encontrar uma linguagem simples e directa. Nesse sentido, é o meu livro mais descomplicado”, disse.
Nascida em Lisboa em 1982, Ana Pessoa vive há mais de uma década em Bruxelas, onde trabalha como tradutora. Olhando para este novo livro, ao voltar à temática da adolescência, da transição para a idade adulta, a escritora admite que lhe proporciona um regresso a Portugal e à família. “Vivo fora de Portugal há demasiado tempo. Talvez a escrita seja uma forma de regressar a mim própria, a alguém que ficou no passado.”
Ainda assim, a personagem Teresa Azevedo (ou Teresa Tristeza, Moleza, Beleza, Natureza, moça, menina, cachopa, como é referida) não é Ana Pessoa, mas o texto inspirou-se em experiências da autora. “Apanhar uma molha, encontrar uma caneta no chão, passar por um homem louco, escrever de madrugada, etc. Em comum com a Teresa tenho, portanto, uma sensibilidade contemplativa e uma certa ironia. Além disso diria que temos ambas um grande amor pelos livros e pelos cadernos”, comparou.
Depois de O caderno vermelho da rapariga karateca, que lhe valeu o Prémio Branquinho da Fonseca 2011, Ana Pessoa voltou a recorrer ao registo diarístico, porque lhe interessa chegar a um “olhar de dentro para fora” e entender a banalidade do quotidiano.
“O melhor dos diários é o registo do dia-a-dia. Pormenores dos dias que estariam perdidos para sempre: a colher que caiu ao chão, um tomate podre no frigorífico, um vizinho a falar na varanda, um pensamento vulgar como, por exemplo, o que fazer para o jantar. Estes pormenores absolutamente banais ganham uma dimensão extraordinária quando vistos à distância. Tornam-se símbolos. Contam a história dos dias e, por isso, contam a nossa história de vida numa perspectiva marcada pelos pormenores, não pelos grandes eventos”, afirmou.
Com obra já publicada no Brasil, na Colômbia e no México, Ana Pessoa tem contos dispersos em colectâneas e é ainda autora do livro ilustrado para pré-leitores Eu sou eu sei.