Menos Facebook por dia, não sabe o bem que lhe fazia
Estudo da Universidade Stanford e da Universidade de Nova Iorque confirma ganhos no bem-estar após um mês sem acesso ao Facebook, bem como um decréscimo da polarização política. Mas também reconhece os benefícios da utilização da rede.
Quanto pagaria por mês para poder continuar a aceder ao Facebook? Apesar de todos os escândalos de uso indevido de dados pessoais e da sensação de que a maior rede social tem contribuído para mostrarmos o pior de nós, o facto é que a maioria dos utilizadores tem ignorado apelos ao boicote à plataforma. E, a julgar pelos resultados de um estudo da Universidade Stanford e da Universidade de Nova Iorque realizado nos Estados Unidos, estaria mesmo disposta a pagar para continuar a utilizar o que hoje é gratuito: 100 dólares (88 euros) por mês, mais precisamente.
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Quanto pagaria por mês para poder continuar a aceder ao Facebook? Apesar de todos os escândalos de uso indevido de dados pessoais e da sensação de que a maior rede social tem contribuído para mostrarmos o pior de nós, o facto é que a maioria dos utilizadores tem ignorado apelos ao boicote à plataforma. E, a julgar pelos resultados de um estudo da Universidade Stanford e da Universidade de Nova Iorque realizado nos Estados Unidos, estaria mesmo disposta a pagar para continuar a utilizar o que hoje é gratuito: 100 dólares (88 euros) por mês, mais precisamente.
No entanto, essa não é a conclusão central da pesquisa publicada no início de Fevereiro. Antes, quatro economistas de Stanford e Nova Iorque procuraram perceber quais os efeitos no bem-estar dos utilizadores que decidem deixar de usar o Facebook. E a conclusão é que, independentemente de se reconhecerem os benefícios da plataforma, há um aumento do bem-estar e uma diminuição da depressão e da ansiedade após um mês de corte com a rede.
Através de um anúncio colocado no Facebook, 2844 residentes dos EUA responderam a um inquérito sobre o volume de utilização da rede e outros hábitos de consumo, que valor monetário atribuíam ao acesso à plataforma (os tais 100 dólares foram o valor médio indicado) e se estariam dispostos a abandoná-la. Os inquiridos foram depois divididos entre um grupo de estudo e outro de controlo. Aos membros do primeiro foi lançado o desafio de desactivar a conta do Facebook durante um mês a troco de 100 dólares (o acesso ao Messenger era contudo permitido).
Durante esse mês, os investigadores monitorizaram a actividade online dos inquiridos e enviaram mensagens SMS diárias a perguntar como se sentiam. No final foi realizado um novo inquérito.
Mais cara a cara, menos polarização política
Os inquiridos que passaram um mês sem Facebook (mais de 90% cumpriram o acordado) ganharam em média 60 minutos de tempo livre diário e, para surpresa dos investigadores, gastaram a maior parte desse tempo fora da Internet. Não houve uma substituição do Facebook por outras redes sociais ou sites. Em vez disso, a maioria viu mais televisão e passou mais tempo com familiares e amigos. Sem Facebook, houve um decréscimo do uso do computador e do telemóvel.
Os investigadores concluíram que houve também uma “pequena mas significativa melhoria no bem-estar, felicidade e satisfação com a vida” dos inquiridos, e uma quebra dos índices de depressão e ansiedade correspondente a 25 a 45% do que é normalmente registado após intervenções psicológicas como terapias individuais ou programas de auto-ajuda.
Por outro lado, os inquiridos revelaram estar menos informados sobre o que se passava no país quando comparados com o grupo de controlo (que continuou a utilizar o Facebook), confirmando que aquela rede é o principal canal de consumo de informação (e desinformação) nos EUA. E confirmou-se também que o Facebook é um factor de polarização política: quem deixou a rede durante um mês tendeu a ter posições mais moderadas, à esquerda e à direita, do que o grupo de controlo.
Cortar não é para todos
Mas terminada a experiência, a maioria dos inquiridos acabou por regressar ao Facebook, ainda que fazendo um uso da rede 23% menor. Apenas 5% optou por não reactivar a conta nove semanas após o estudo.
A generalidade dos inquiridos reconheceu os benefícios da experiência. “Estive muito menos stressado. Não andei agarrado ao telemóvel como andava antes. E reparei que não me importava assim tanto o que acontecia online”, escreveu um utilizador no questionário final.
“Percebi a quantidade de tempo que andava a desperdiçar. Agora tenho tempo para outras coisas”, afirmou outro.
Ainda assim, outros reconheceram que perderam algo. “Senti-me muito afastado de pessoas de que gosto muito”, escreveu um confesso “introvertido” para quem o Facebook é uma importante ferramenta.
Apesar de sublinharem os ganhos em termos de bem-estar e de saúde mental de uma pausa no Facebook, os autores do estudo também reconhecem os benefícios desta e de outras redes: “Qualquer discussão sobre as desvantagens das redes sociais não deve ocultar o facto básico de que estas satisfazem necessidades profundas e generalizadas”.