Futuro “mais brilhante” da EDP passa por esquecer a OPA, cortar dívida e sair do Brasil

Os fundos liderados pelo investidor Paul Elliot Singer querem que a gestão da empresa ponha a OPA dos chineses da CTG para trás das costas e se concentre em reduzir dívida e vender activos, como o negócio do Brasil, para investir mais em renováveis.

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Fundo de investimento liderado pelo investidor Paul Singer já controla 2,9% da EDP. Nuno Ferreira Santos

Esquecer a Oferta Pública de Aquisição (OPA) chinesa, vender a operação no Brasil e alguns negócios na Península Ibérica (como as centrais térmicas e as redes de distribuição) são alguns dos caminhos apontados para a EDP pelos fundos liderados pelo investidor Paul Elliot Singer, cuja actuação no mercado já lhe valeu o epíteto de “abutre”, que entrou no capital da eléctrica em Outubro passado.

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Esquecer a Oferta Pública de Aquisição (OPA) chinesa, vender a operação no Brasil e alguns negócios na Península Ibérica (como as centrais térmicas e as redes de distribuição) são alguns dos caminhos apontados para a EDP pelos fundos liderados pelo investidor Paul Elliot Singer, cuja actuação no mercado já lhe valeu o epíteto de “abutre”, que entrou no capital da eléctrica em Outubro passado.

Numa apresentação divulgada esta quinta-feira (e que pode ser consultada num site especificamente criado para o efeito), a Elliott Advisors (UK) Limited (“Elliott”), que presta assessoria a fundos que, no conjunto, detêm 2,9% no capital da EDP, enumera uma série de pontos que a empresa liderada por António Mexia pode (deve) seguir para a “criação de valor significativo para a EDP”.

Numa carta dirigida ao Conselho Geral e de Supervisão da EDP, presidido pelo antigo ministro Luís Amado, a Elliot expressa preocupações com o futuro da EDP – diz que “a maior fonte de incerteza” que a empresa enfrenta é a OPA da CTG, anunciada em Maio, com um preço de 3,26 por acção e que “subavalia significativamente o potencial de crescimento da EDP”. Mas também sublinha que o “tempo e recursos consideráveis” que gastou a estudar a empresa e as oportunidades e desafios que se lhe colocam, reforçam a convicção de que a EDP possui um conjunto de activos de alta qualidade, que estão subavaliados e que têm um “potencial de desenvolvimento substancial”.

Se a OPA da CTG se vier a concretizar - implicando, por causa dos constrangimentos regulatórios, a venda dos activos de renováveis nos Estados Unidos, ou de produção eléctrica em Portugal (para que a actividade da REN como operador de rede de transporte não seja afectada) -, a consequência será o “enfraquecimento da EDP”, que passará a ser uma “empresa mais volátil, com um conjunto de activos menos atractivo e com poucas oportunidades de crescimento.

“Uma avaliação realista da oferta da CTG – que actualmente demonstra poucos sinais de progresso e que enfrenta obstáculos regulatórios consideráveis para a sua aprovação”, somada a uma “análise objectiva de um caminho autónomo mais promissor”, garantirá “um futuro mais brilhante à EDP”, diz a Elliot.

Este “caminho alternativo e mais promissor”, permitiria fortalecer a EDP e transformar “o seu actual portefólio no portefólio de uma utility [empresa de serviços essenciais, como electricidade e água] ideal, focado nas principais áreas de expertise [competência] tecnológica, com baixa alavancagem e com grande capacidade de investimento no seu crescimento”.

Menos dívida e mais renováveis

Trocado por miúdos, o que a Elliot propõe é que a equipa de gestão executiva encabeçada por Mexia – e com principal destaque para o administrador com o pelouro financeiro, Miguel Stilwell de Andrade – execute um plano que passa por apontar todas baterias ao investimento em energias renováveis, que a Elliot classifica como uma “área fundamental”.

Para isso, há que reduzir dívida (a dívida líquida da EDP atingiu 14.505 milhões de euros no final de Setembro, acima dos 13.902 milhões em Dezembro de 2017). “Historicamente, a falta de capital suficiente limitou a capacidade da empresa de financiar totalmente as oportunidades no seu portefólio de renováveis”, refere a carta. “A desalavancagem e, potencialmente, uma subida de rating” permitiriam que a empresa reduzisse a sua carga de custos financeiros, que poderiam também ser aligeirados “com a venda da EDP Brasil”.

A Elliot defende que com uma “maior flexibilidade financeira e uma alocação focada dos recursos, a EDP deverá ser capaz de aumentar substancialmente a capacidade de produção de energia renovável” e aumentar a sua capacidade anualmente em cerca de 2 Gigawatt (GW). E numa clara demonstração de que a sua estratégia não podia ser mais diferente do que a que viesse a resultar da OPA, a Elliot nota que “a referida meta é alcançável, por exemplo, utilizando cerca de 3 GW da capacidade na América do Norte, que se encontra actualmente em fase de pré-desenvolvimento”.

Se a injecção de capital “gerada pelo desinvestimento prudente” proporcionaria “uma oportunidade para fortalecer os investimentos nas principais áreas de negócio”, também possibilitaria a “consideração de outros meios de maximização de valor na distribuição de capital”. Por exemplo, um “programa de recompra de acções através do qual a EDP reinveste em si própria, especialmente à luz do desconto [da cotação] actual, da nossa confiança nas perspectivas futuras de crescimento da empresa e da confiança do Conselho de Administração Executivo de que o valor da EDP ultrapassa a contrapartida da Oferta da CTG”, refere o documento.

Adeus Brasil e centrais térmicas

Além de vender o negócio do Brasil (em que a EDP “fica atrás da concorrência em termos de investimento e ocupa o sétimo lugar na produção privada de energia e o nono lugar na distribuição”), a Elliot recomenda que a empresa venda uma posição de 49% nos negócios de distribuição de electricidade na Península Ibérica, aproveitando a “procura significativa por parte de investidores em infra-estruturas que valorizam os activos de rede com um prémio substancial nos mercados públicos”.

Tratando-se de um activo regulado (com receitas garantidas e protegidas por contratos muito longo) “os negócios da EDP nas Redes Ibéricas serão atractivos para um grande número de compradores”.

Esta estratégia de venda de activos passa também por desfazer-se de antigas centrais térmicas no mercado ibérico para se consolidar como um dos maiores produtores mundiais de energias renováveis. A venda deste tipo de activos (onde caberia a central a carvão de Sines e outras nas Astúrias, por exemplo) “pode ser alcançada por um valor atractivo de pelo menos 1700 milhões de euros, com base em transacções precedentes comparáveis”, refere a carta.