Marisa Matias e as europeias: o BE não é populista e a democracia está “em jogo”
A eurodeputada do Bloco de Esquerda diz que "a maior frustração" do mandato que está a terminar foi perceber que a UE não aprendeu "rigorosamente nada com a crise".
Marisa Matias, cabeça de lista bloquista às eleições europeias, rejeita que o BE seja populista e acredita que a recomposição do Parlamento Europeu (PE) passará pelo crescimento das "forças progressistas" e pela "implosão do bloco central".
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Marisa Matias, cabeça de lista bloquista às eleições europeias, rejeita que o BE seja populista e acredita que a recomposição do Parlamento Europeu (PE) passará pelo crescimento das "forças progressistas" e pela "implosão do bloco central".
Em entrevista neste sábado à agência Lusa, a candidata a um terceiro mandato avisa ainda que é "a defesa da própria democracia" que estará "em jogo" na campanha, porque é preciso defender direitos básicos que já se julgavam adquiridos.
"Compreendo que, quando o debate eleitoral aquece, se entra em facilitismos dessa natureza e se chama populismo ao que não é. O BE não é um partido populista", garante na entrevista.
A eurodeputada vê "uma transformação profunda" na política europeia cujo "alcance é difícil de prever", mas acredita que "há margem para um crescimento e um reforço significativo das forças políticas progressistas europeias", constituídas por partidos de esquerda e partidos associados ao grupo parlamentar dos Verdes.
Apesar disso, também teme que os partidos de extrema-direita aumentem a representação, porque "lhes foram sendo abertas portas" por partidos tradicionais "que foram deixando entrar a agenda da extrema-direita" no discurso. Espera, contudo, que "não cresçam o suficiente" e que seja possível "fazer alianças democráticas para impedir que essas políticas vinguem".
Na entrevista, a bloquista diz ainda que "a social-democracia colapsa porque cedeu à economia de mercado, cedeu ao ideal do neoliberalismo e deixou fugir a defesa do Estado social das suas mãos".
Em relação à necessidade de se defender a democracia, sublinha que "a democracia se viu muito limitada nos últimos anos", tal como "a capacidade de decisão dentro dos próprios Estados-membros" pelas imposições de Bruxelas, continuando essa a ser uma "luta fundamental".
"Mas a defesa da democracia agora (...) é também a própria defesa do Estado de direito. Estamos numa fase em que é preciso defender os direitos mais básicos e mais fundamentais que nós julgávamos adquiridos", acrescenta, dando o exemplo das "questões de direitos humanos fundamentais e de igualdade, da protecção dos migrantes".
Sobre outros temas, lamenta que os elogios na União Europeia (UE) ao desempenho da economia portuguesa não se traduzam em qualquer mudança na política económica comunitária: "Nem uma vírgula foi alterada nos tratados por causa da experiência que se viveu em Portugal.”
A eurodeputada assegura mesmo que "a maior frustração" do mandato que está a terminar foi, enquanto membro da Comissão de Assuntos Económicos e Monetários, perceber que a UE não aprendeu "rigorosamente nada com a crise".
Marisa Matias aproveita a oportunidade para criticar Theresa May no processo do Brexit: "Sinceramente nunca vi ninguém tão mal preparado para lidar com este dossier como as autoridades britânicas e a senhora Theresa May. Não teve nenhuma capacidade de lidar com isto.”
Outra crítica apontada é a contradição que diz haver no PS em relação ao Tratado Orçamental: "O PS, em relação ao Tratado Orçamental, vai ter de escolher qual é [o discurso] que vai trazer à campanha. Se traz o PS de Mário Centeno e do Governo ou se traz o do PE que votou para a não integração do Tratado Orçamental no direito comunitário e bem, do meu ponto de vista”, diz Marisa Matias que recusa traçar uma meta eleitoral com “números", mas admite " o objectivo de aumentar a representação", que neste momento é de um lugar.