“Disseram-me que isto era um polvo”, conta arrependido das messes da Força Aérea
Nesta segunda-feira, um segundo militar denunciou os colegas envolvidos no esquema de corrupção investigado no âmbito da Operação Zeus.
A existência de um esquema de sobrefacturação nas messes da Força Aérea Portuguesa foi confirmada esta segunda-feira em tribunal por um segundo arguido. Depois de um major da base de Monte Real agora na reserva se ter declarado arrependido, foi a vez de o capitão Orlando Pinheiro, que ainda se encontra ao serviço, denunciar os colegas e contar como também ele ganhou dinheiro extra de forma criminosa, enquanto geriu a messe da Ota.
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A existência de um esquema de sobrefacturação nas messes da Força Aérea Portuguesa foi confirmada esta segunda-feira em tribunal por um segundo arguido. Depois de um major da base de Monte Real agora na reserva se ter declarado arrependido, foi a vez de o capitão Orlando Pinheiro, que ainda se encontra ao serviço, denunciar os colegas e contar como também ele ganhou dinheiro extra de forma criminosa, enquanto geriu a messe da Ota.
Em conluio com militares, os fornecedores entregavam nas messes quantidades de bens alimentares muito inferiores às quantidades que facturavam à Força Aérea. O lucro correspondente à diferença entre o que era encomendado e o que era efectivamente entregue era dividido entre os empresários e os militares. As patentes mais altas auferiam mais do que as mais baixas.
Quando Orlando Pinheiro foi convidado para governar a messe da Ota, em meados de 2014, deu-se imediatamente conta das irregularidades ao nível do registo de stocks: “Havia um défice de 1500 quilos de bifes e de 1700 de frango. Dos 62 mil euros de existências registadas só estavam 19 mil em armazém”. O seu antecessor disse-lhe que se tratava de um problema que já vinha do passado. Ao que contou o capitão em tribunal, foi este militar que o pôs a par das práticas criminosas vigentes: “Disse-me: ‘Isto é um polvo’ e explicou-me como repartir o dinheiro”. Parte dos lucros provenientes do esquema, 500 a 750 euros mensais, iam para a hierarquia, para a direcção de abastecimento e transportes, departamento que era gerido por um general e vários coronéis. Todos eles se sentam hoje também no banco dos réus, num caso que entre militares e fornecedores conta com 68 arguidos.
“Infelizmente aceitei entrar nisto. Por falta de coragem”, justificou Orlando Pinheiro, explicando que tinha de arranjar 1750 euros mensais para distribuir entre os militares. “Sempre que aparecia um fornecedor com numerário o dinheiro era imediatamente dividido”, descreveu. Tal como o major da base de Monte Real, também a confissão deste capitão incrimina colegas que não estão a ser julgados, uma vez que o juiz de instrução criminal Ivo Rosa entendeu não existirem indícios suficientes para os submeter a julgamento.
“Esta é a maior vergonha da minha vida”, declarou o arguido que está a ter apoio psiquiátrico e psicológico. “Foi uma pena não ter apanhado um comboio pela frente quando aceitei gerir a messe da Ota. Mas a tentação falou mais alto”.